A violência nas escolas está também de quarentena. Um assunto desagradável. Mas, é necessário tocar neste assunto, por ser muito sério e afetar diretamente o professor. Sei o que é e como entristece os professores e gestores das escolas. Vivenciei loucuras de estudantes em uma escola, onde trabalhava no turno noturno. Mas, naquele dia, foi muito inusitado para mim. Cheguei na escola e depois de um papo rápido com alguns colegas, fui para a sala e lá, todos estavam esperando e começamos a trabalhar. Eu havia produzido um material interessante pra leitura individual em um momento e depois uma conversa em grupos com apresentação de uma breve conclusão sobre o assunto pelo grupo. Sabia que não era legal delongar muito; precisava tornar a aula interessante para mim e para os estudantes. Eu já chegava depois de um dia de trabalho em outro lugar e não poderia ser de qualquer jeito e muito menos cansativo.
Sabia que seria legal. Na sala iniciamos o trabalho, depois de algumas cordialidades. Todos estavam ligados ao texto, quando a luz apagou.Alguém rapidamente fechou a porta. Eu fiquei parada, de pé. Foi só na escola a falta de energia, da sala eu podia ver os postes acesos, lá fora, na rua, passando o muro da escola. Lá fora estava normal. Dentro da escola não. Iniciara-se uma gritaria infernal, baques e baques. O que estava acontecendo? Solicitei aos estudantes que permanecessem onde estavam. Ficamos em silêncio. Por um momento imaginei que invadissem a sala. Olhava para a porta. Fiquei imóvel todo o tempo. Eu não estava ali. Eu estava tranquila. Tudo parecia tão distante. Todo mundo parado, petrificado como eu, naquele espaço. Tudo se quebrava lá fora. Vieram e chutaram a porta da sala. Mas, não conseguiram abrir. Eu nunca tinha ouvido um barulho daquele, nem visto tamanho desespero... Mas, mesmo assim, eu estava muito calma, me sentia segura....Os estudantes da sala onde eu estava, estavam quietos. A situação durou um tempo. Depois, foi diminuindo e por fim o silencio. Sentei-me.
Demoramos um pouco na situação e saímos quando a porta da sala se abriu ao mesmo tempo que luz acendeu e eu vi o diretor da escola, parado na porta e admirado." Aqui tudo bem". Sim, tudo bem. O que houve nesta escola? Levantei-me e fui ver lá no corredor. Que cena! Parecia que tinha passado um furacão, muita madeira espalhada. Portas arrancadas. Cadernos e livros desarrumados pelo chão.As mesas e carteiras estavam destroçadas. Destruíram os móveis escolares.A cena era repugnante. Eu olhei para o rosto sombrio do diretor e disse-lhe: "Você precisará saber quem organizou esta desordem, para tomar providências diretas ou toda escola será penalizada". Ele, uma pessoa ponderada, respondeu vou providenciar isto, quero dizer que vou tentar ver quem fez e tomar providências". Encerramos o turno. Voltei para casa pensando o que poderíamos fazer para que a situação não se repetisse. Meu Deus!!!!
Eu trabalhava apenas dois dias, semanalmente, à noite, naquela escola. No próximo dia, a escola estava toda organizada, as carteiras, mesas e portas consertadas, tudo no lugar . Fiquei admirada e elogiei a administração da escola por isto. Claro que na escola havia relações internas e externas que eu não tinha conhecimento e também não me interessava, até que não interferisse na dinâmica e valores do estabelecimento. Notei que a portaria estava mais rigorosa e ativa com a entrada e saída dos estudantes. Tudo ficou do jeito, que tinha que ficar, por um bom tempo. Mas, não se identificou os cabeças do levante em vandalismo. Eu não procurei mais tocar neste assunto. Era da pauta da diretoria. Poderia falar, se eles me falassem sobre. Me desliguei. O tempo corria.
Certo dia a professora de Português, precisava apresentar um vídeo e queria reunir todas as suas turmas em uma aula só, em um horário bom, uma sala boa um horário favorável.Propôs-me trocar dia e horário. Concordei. Tive que mudar tudo, para trabalhar um dia em seu horário e deixar o meu livre para ela. Tudo foi feito como ela precisava. O dia, que ela precisava, era uma sexta-feira, no horário, sala e turma que eu usava. Eu não fui na escola, naquela sexta. Tudo foi modificado. Passou o final da semana e na terça, eu fui para a escola. Já de longe estranhei a falta de movimento. Nenhum estudante. Ninguém da escola na rua. Estranho. Cheguei na escola. Silêncio e escuridão. " Não está funcionando, hoje?" O porteiro disse: "A direção tá ai e duas professoras". Posso entrar no prédio? Eu já estava dentro, mas, na parte externa. O portão de ferro principal estava com cadeados. Foi aberto e eu entrei.
Na direção, o ambiente era de consternação e no corredor, havia um montão de carteiras quebradas. "Novamente?!!!". Exclamei. E acrescentei que "desta forma já era um caso para ser levado a Secretaria Estadual de Educação com aviso de que seria levado a nível judiciário. Os estudantes do turno noturno eram todos maiores de idade, deveria haver uma investigação, para descobrir a causa, quem fez, para assumir a responsabilidade. Isto já se configurava um caso de vandalismo reincidente, não poderia haver uma terceira vez". Algo me causou espanto: a vice-diretora disse que não era caso de polícia não; que pensar assim era infantil. Eu senti cada palavra, pensei em responder-lhe a altura mas, não costumava dar-me ao trabalho de começar um debate com alguém que pensava como ela. A escola era pública e estava sendo atacada daquela forma e ela achava que não era caso de polícia. Desta forma eu não poderia continuar conversando com ela. Achei-a indigna.
Achei-a mais indigna ainda, depois que soube, que acontecera tudo como da outra vez e muito mais; a professora que estava na minha sala, a professora de Português que trocara de horário comigo estava no hospital. Recebera muitas cadeiradas no escuro, fora machucada. Imediatamente me imaginei no lugar da colega, que era idosa(nesta época eu era bem jovem). A escola estava toda destruída, uma professora no hospital e não era caso de polícia? Isto era algo intolerável, para mim e eu passei a desconfiar da vice-diretora. A escola foi refeita. Móveis escolares, quadro de giz, portas . Desentulho dos corredores. Voltou a funcionar. Iniciamos um trabalho contra ações de vandalismo dentro da escola. Foi um evento que durou uma semana e cada professor faria o trabalho, durante o seu horário de aula e depois faríamos um encontro conjunto e tal.... Certa vez, ouvi um aluno conversando com outro sobre a possibilidade de ter chamado e chamar a polícia, nestes acontecimentos. Quando eles me consultaram.Eu lhes disse, que também achava uma possibilidade, uma vez que havia reincidência e suspeita de infiltrações de vândalos da comunidade imediata, para operar desta forma e outras histórias; mas, que isto não era aconselhado pela direção, isto era inaceitável para a diretoria da escola, mesmo com uma vítima.
A professora melhorou. Voltou para as suas atividades e depois, no final do ano, mudou de escola. Descobri na caderneta um bom número de evadidos naquele ano.Apenas se matricularam. Depois da semana de considerações contra o vandalismo na escola, reforço e empoderamento da portaria, proteção dos disjuntores, as coisas tomaram um rumo de esperança. Mas, ainda havia muitas expectativas.No final do último semestre, daquele ano, eu conclui tudo. Recuperei
estudantes, poucos com atividades e por avaliações do acompanhamento
anual. Não reprovei ninguém. Adoeci e encerrei meu contrato naquele estabelecimento. Anos depois encontrei o diretor, já estava aposentado. Conversamos cordialmente. Enquanto ele falava, eu lembrava de sua luta naquela gestão....
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