sábado, 22 de maio de 2021

Sozinha.

lembro que vovó sempre estava comigo.Saíamos juntas. Para igreja, enquanto ela podia ir as missas.Enquanto ela podia sair, subir no lotação; para ir a cidade. Naquele tempo, a cidade era a Avenida Sete de Setembro, o point de Salvador.  Vez em quando ia comprar algo bom, de qualidade, como ela dizia. Algo assim, não tinha em área de comércio de gente pobre. Não tinha na Avenida J. J. Seabra, a Baixa do Sapateiros. A Baixa dos Sapateiros era a zona da gente. Mas, quando se queria algo diferente dos outros, algo inusitado que ninguém tinha, preferia-se gastar o pouco dinheirinho na Avenida Sete ou na Rua Chile. A Sloper era o lugar, quanta coisa linda! Eu dizia,  aqui é tudo bonito de gente rica! Era engraçado. Todos riam. Acontecia quando vovó recebia a pensão de vovó. Mas, eu não lembro quantas vezes fomos. Depois de um tempo, não fomos mais. Tudo era comprado por papai e titio. Da comida ao cabelo. Ficávamos a esperar. Eu cresci e comprava o que faltasse nos armazéns de Adilson, na bodega de Sr. Lindolfo e ia também a carvoaria de Sr. Irineu o pai de Marluce e outra moça.
Sua esposa enlouquecera e vivia internada, Naquele tempo, pessoas com doença mental, ficavam internadas. Havia asilo, algo arrepiante. Mas, não se tocava nestes assuntos para não maltratar seu Irineu e as meninas. Afinal elas não falavam de sua mãe, nunca. Eu não falava da minha porque eu não tinha o que falar, nem a conhecia. Estava morta. Elas não falavam porque, se suponha, tinham vergonha , ou talvez sua mãe não estivesse louca nem internada, penso eu hoje. Mas, quando eu via seu Irineu, um homem alto branco com um semblante mórbido,achava que ele escondia algo. Muito magro com um nariz adunco. Eu não gostava de comprar carvão. Mas, a gente cozinhava com carvão o tempo todo. Hoje eu gosto de cozinhar com carvão , com lenha e acho que é muito mais interessante. Também acho que o sabor do alimento fica diferente. Mais gostoso. Também não tínhamos geladeira e as idas a quitandas e armazéns eram atividades constantes para mim. Mas, eu  não achava muito legal. Fazia porque tinha de fazer. Com o tempo vovó já não saia mais e eu, além de fazer compras, tinha de ir a Bancos pagar contas  da casa. Pagar o foro do terreno, uma série de atividades. Eu me  sentia incomodada. As pessoas me olhavam muito na rua. Homens, principalmente e eu não gostava disto. Ana, Lena e Vera, as filhas de D. Olga eram responsáveis por ser uma garota  atraente. Cuidavam de meu cabelo e da minha roupa, elas seguiam a mãe na costura e  cuidavam  uma da outra, eram três irmãs e me acolheram como irmã, mais nova. Eu achava isto muito legal e passei a frequentar sua casa, a única que eu ia, no bairro. Elas eram etnicamente como eu e certa vez Ana arrumava o cabelo da irmã e perguntou se eu queria que ela arrumasse o meu e  foi muito legal, eu gostei tanto que não fui mais  em Hilda arrumar os cabelos. Me identifiquei com a família de Sr Veríssimo o pai das meninas e vovó mandava um agrado financeiro para Ana. Todas três eram estudiosas e caprichosas. Ana  fez o curso Normal no ICEIA. Depois prestou vestibular para Matemática na UFBA, foi aprovada de primeira, é graduada em Matemática   Lena fez 

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