Todo ano, titio trazia calendários.O primeiro que lembro tinha rostos de crianças meninas
e meninos todos os meses.Crianças bonitas brancas, penteadas e vestidas com esmero.Raramente havia uma menina ou um menino negro, podia ter com pele amorenada, escura; nunca.... .Eu achava que faltava alguma coisa. Mas, nada podia fazer e não dizia também,Achava todos lindos, anos sessenta início os calendários eram assim. Na verdade eu não me via nas folhas daqueles calendários , nem via meus primos.Como até hoje eram brindes das casas comerciais aos clientes.Eu, criança de arrabaldes não sabia de muita coisa com certeza, que não estivesse ao alcance de meus olhos ou que pudesse percorrer com meus pés. Lá em cima, a rua principal eu sabia que estava lá.... Lá em cima, porque residíamos em uma ladeira, não muito inclinada, no nosso endereço; inclinada mais adiante. A rua principal ainda não era meu território. Por muito tempo, a rua pertenceu a meu pai, aos meus tios e primos maiores.A mim era reservado sair com vovó, sempre as compras e, de vez em quando, à missa e visitar alguns parentes, vez ou outra a cidade, Baixa dos Sapateiros, , Avenida Sete de Setembro, um aniversário na vizinhança, um caruru, levar um santinho para benzer na igrejinha de Nossa Senhora das Graças, na Caixa D'água, isto sempre eu, etc.
Meu universo era a casa de minha avó que naquele tempo era enorme.Suas coisas eram minhas.Eu era a rainha da casa e muito bem assistida que não podia ter consciência de nada da vida. Graças a Deus.
Certo dia titio Duca trouxe um folhinha muito encantadora,diferente das outras de moças brancas de boca vermelha e dentes perfeitos ou crianças de pele rosada e belos vestidos e sapatos lindos, que eu gostava de ver sem dúvida.O calendário daquele ano, era cheio de pequenas imagens iconográficas dos santos.Todos os meses. Os santos do dia em cada mês.Achei interessante.Vovó não conhecia todos os santos, nem titio Duca, nem ninguém lá em casa.Eu amava aquela folhinhas. Por uns anos, titio as trouxe e eu ficava perscrutando os dias e fazendo perguntas sobre aquelas pessoas que eram santas e estavam no céu, com Papai do Céu. Poucos eram do conhecimento, isto me decepcionava. Depois, titio não trouxe mais.Vovó queria guardar os calendários. Mas, eu recortei-os todos e tiveram fim. Hoje é possível saber a vida dos santos pela possibilidade de conhecimento pelas tecnologias da informação e comunicação .Amo isto, tanto quanto amava os calendários hagiológicos e mais.
Imagem de calendário hagiológico.google.com
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