Aprendi a aceitar a morte como um fato, algo imutável.fim de vida.Sei que morrerei, que todos morrerão.Assim como não existe mais ninguém de 150 anos , neste mundo....Fico, as vezes lembrando dos meus contatos com acontecimentos funébres. O primeiro a separação de minha mãe enquanto eu tinha apenas nove meses de idade neste mundo. Muito bebê ainda, ficaram só impressões que se manifestam no final das tardes. Depois meu avô.Seu caixão na sala de nossa casa.Somente eu e meu tio lembramos dele que eu saiba.....Quantos enterros caixões alvinhos de anjinhos...da minha casa víamos o Cemitério das Quintas dos Lázaros.As vezes eu ficava horas a fio a olhar, da janelinha do fundo da casa de minha para lá.Tudo bem pequenino pela distancia.Quase todas as horas havia cortejos fúnebres. Nunca parava. Tinha dias em que o movimento era maior. Muita atividade.Cemitérios são lugares intrigantes de grande reflexão.Eu era uma menina e percebi que a morte era insaciável. Não parava de comer.... A ladeira da cidade nova caminho para o cemitério..Ainda é?
Morria gente na vizinhança de velhice, de doença, de negligência médica, de acidente, de morte. Momentos tristes...depois vovó não foi mais a enterro e eu também não ia, até que fui no enterro de Angela uma adolescente, colega de escola. A escola toda foi.....eu fui e foi muito sério porque aconteceu um fenômeno comigo. Angela sorria muito era muito alegre, embora tivesse uma doença incurável nos rins. Morreu quando recomeçamos a s aulas do segundo semestre de 1973, no ginásio.Disseram que ela escolheu deliberadamente morrer quebrando a dieta por si mesma em sua definidora alegria. Morreu.Comecei a rir desde o caminho. E quando cheguei em seu velório fui tomada por uma grande vontade de rir.Imaginem só. Muito desagradável para seus pais e familiares... Fui levada para as catacumbas, entre as paredes de arquivos funerários...Risos e risos. Lembro do olhar compreensivo de sua mãe muito chorosa.... O sorriso era a característica de sua bela filha....
Depois fui a poucos enterros.Raramente vou. Mas, a nossa presença é para consolo dos vivos.Dizemos a eles: Olha este(a) se foi. Mas, nós estamos aqui...podemos te abraçar, fazer companhia....Para mim algo sem saída é a morte, como antecedente a doença grave e incurável que nos prepara, diminuindo a surpresa. Mas, não retira a dor, que é causada pela certeza da falta, de não mais poder ver...Por isto precisamos nos atentar e fazer-nos presentes enquanto vivos.Depois nada mais é possível fazer.Somente o pranto da saudade e da dor de não ter feito ou não ter sido, como deveria fazer e ser.A morte é certeza.Sublime certeza.
Maria das Graças Pereira Nunes.
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