"Tínhamos uma vizinha, D Florença, vizinha Flora como vovó a chamava. Seu marido, por um tempo teve um açougue e como ela era pródiga e nos via como mais pobre que ela, sacos de bons pedaços de carne e ossos de tutano eram periodicamente lançados no quintal de nossa casa. Desciam em queda livre da varandinha do fundo do prédio de Dona Florença.Nos assustávamos com o baque. As vezes, eu e vovó ríamos muito. Eu ou vovó ia pegar antes que o cachorro Vou Dizer, outros cachorros e gatos vissem o saco e fossem pesquisar....Titio nunca falava nada. Vovó agradecia e eu ria da forma.A carne era jogada. Sempre apanhávamos. Nunca desprezamos aquela ação da vizinha.Ela podia e queria nos dar de sua dispensa..Tudo bem.....Foi um tempo em que fomos por demais carnívoros. Não havia geladeira na nossa casa e o processo para conservar a carne era trabalhoso e executado apenas por vovó. Éramos também pródigos para com os animais da comunidade....Não era possível consumir tanta carne éramos apenas três pessoas, na casa e titio fazia suas principais refeições no trabalho. Não sei se esta mulher ainda existe. Mas, lembro que ela sempre achava que ia morrer e que já se via no céu com Jesus, os anjos. Jesus para ela era Deus.Ela era protestante, Batista. Gostávamos dela e nunca falávamos contra sua religião ou qualquer outra. Mas, nós servíamos a Satanás na sua opinião e quando eu aceitava o convite de ir a sua igreja, ela se alegrava muito na ida e fechava a cara e afastava os filhos de mim no retorno, porque eu nunca levantava a mão, aceitando a chamada do pastor de aceitar Jesus e ir lá para frente. Eu não me identificava com isto.Era pequena, mas já entendia, que aceitar Jesus era algo particular.Não atendia suas instâncias para levantar a mão e, na vez em que ela falou severamente comigo e segurou o meu braço para o levantar lutei com ela e não fiquei no culto, fugi para casa. Não fui mais. Declarei desta forma para ela a quem eu pertencia, ao seu entender ao Diabo.A reação dela foi entendida por mim. Seus ilhos que eram meus amigos se afastaram mais de nossa casa Rosa e Elzo.Rosa me desprezou mesmo e Elzo o menor sempre aparecia para conversar conosco e jogar. Ouvi diversas vezes as frases da parte dela: " Deixa Maria. Ela já sabe onde está". Naquela época não se falava em tolerância. Mas, nós eu e vovó, titio, papai nunca dirigimos nenhum menosprezo ou julgamento, sobre as pessoas, por suas crenças. Fez-se por bom tempo, um delicioso caruru na casa D.Armênia a francesa, outra vizinha querida, onde vovó participava da preparação, eu ia junto e amava a comida...Depois parou porque seu marido era beato da igreja de Nossa Senhora das Graças, no bairro, ou fora promessa e completou o tempo...Não sei..Ao pobre acompanha a religião e preceitos. Tinha também a trezena antonina na casa de Sr. Atalufo. A casa cheia de areia e pitanga. Um altar na sala feito de papel crepom e papel laminado prateado. Lá fora , no terreiro da entrada mais areia pelo chão e bandeirolas, nessa época sempre azul e branca. A cor azul predominava e o cheiro de cera queimando, vela acesa. O mesmo cheiro das casa onde havia um caixão com alguém deitado dentro. Um velório. Rezas, risos, convivas, choro, lamento, gargalhada e cheiro de licor ou vinho, alguma coisa gostosa borbulhava dentro de uma panela no fogo. O pobre crente.Sempre crente.Sua fé o torna rico.
Collet Zolah Rimando com a própria vida.2011.
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