sábado, 18 de junho de 2016

O Alcool prolonga a vida?

"O alcool ajuda a prolongar a vida? Não sei com certeza.
Lembro de tio Eduardo Teodosio.Nos anos sessenta, o médico o desenganara da vida; ele morreria logo. Tinha um mal cardíaco que o mataria em pouco tempo.Tio Dudu, não era de brincadeira. Falava assim, já estou desenganado.... e vivia sempre turbinado. A previsão era de morrer logo. Tio incrementou sua vida e a aqueceu com os conhaques, gims , vodikas e todas as misturas possíveis. Ele não bebia cerveja.. Era alcoólatra e, só sentia bem, turbinado.Se não bebesse era mal humorado, cara feia.....O médico fora cruel com ele, talvez, ou ele decidiu não se cuidar? Não sei. Não o acompanhei a consulta e não sei de detalhes era muito pequena.Sei que ele não tomava os remédios.Gostava de comer bem. Estava aposentado e tinha um físico, que hoje posso dizer , era invejável, na sua idade. Não tinha cabelos brancos e era um homem bom , muito humano, sentimental pacas.Chorava por tudo.Titia sua esposa tinha um tesouro em casa. O negócio dele era beber. Quando se reclamava com ele, ou quando encarava o olhar triste da mulher, ele dizia sem que lhe perguntasse: já que vou morrer , quero morrer logo...Algo sério demais. Sua cachaçada no entanto,quando nada o irritava, era agradável, muitas histórias da Bahia que nós não conhecíamos.Contos de estivador, homem forte.Eu e seus três filhos gostávamos de ouvir, com uma fogueirinha acesa na nossa frente, no quintal da casa dele e saboreando acepipes de titia, varávamos a noite, nesta farra.A família toda. Depois, quando não podíamos comer, mais nada, íamos todos para a cama com a barriga lotada de guloseimas. Não lembro se escovávamos os dentes.Lembro que Eduardo Filho, meu primo, quase sempre gritava mais tarde da  noite e titia e seu pai, pulavam da cama e ia em socorro dele.Ouvíamos os ranger das portas...Espíritos maus se debruçavam sobre a cama de Eduardinho eu pensava que era Tutucambê ou o Homem do Lençol, personagens da mitologia assombrativa e atemorizante de minha avó.
Pois bem, tio Teodosio não morreu logo, como lhe disse o médico, naquele tempo, quando não existiam as possibilidades da medicina de hoje. Não morreu em um ano, nem em dois anos. Viveu muitos anos, sempre bebendo...Até que um dia, três dias depois de uma forte contrariedade, numa manhã de sábado, cheia de sol, um som estranho ocupou o casarão, um grito sufocado, rouco sem voz, algo doloroso, uma respiração bucal de afogado..sensação de sufoco.... algo amedrontador; era tio Teodosio dando seu último suspiro. Todas as tentativas de ressurreição foram nulas. ..assustada com aquilo tudo pulei da cama e corri pro quintal....depois fui olhar , do lado de fora, pela janela de seu quarto e vi seu corpo deitado coberto com lençóis brancos. Ele já tinha ido. Morreu quando teve que morrer.....Como ele sempre prevenia, vou morrer, vou morrer, no nosso íntimo, isto era uma possibilidade, mesmo assim foi um momento muito doloroso. ..Hoje penso que suas turbinações o mantinham com o coração mais relaxado.Apesar disto, não sou a favor de alcoolismo."
Collet Zolah

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Tio Marcelo

"Não sei em que ano Marcelo, primo em primeiro grau de papai e  meu primo em  segundo, ficou louco.Quando nasci ele já vivia internado. Naquele tempo se internava doentes mentais.... Hoje é diferente. Não o conheci pessoalmente ele fora privado do convívio familiar. Entre as fotos da família, daquele tempo estava uma foto de seu rosto, ele usava um terno claro e chapéu. Tinha o ar brincalhão de um jovem beirando os trinta. Comparando com os outros, era de boa altura, forte e tinha traços espetaculares. Um homem muito bonito. Enlouquecera ainda jovem. Fora assistir um jogo de futebol, ao vivo, com irmãos e primos e quando retornou, conforme se contava em família, estava excessivamente alegre,dançava e brincava muito e estranhamente, até que subiu na cama da prima para pular sobre ela. Ficou pulando, pulando sem parar. Quebrou a cama, sem dúvida e o pessoal a chamá-lo para que parasse, ele não atendia e anoiteceu e ele já não podia ser dominado e .....foi terrível........ eu ficava imaginando todas as cenas. "Por que tio Marcelo ficou doido?" perguntava.Cada um dizia uma coisa. Sua tia dizia ,"Não sei". Sua irmã, Corah, dizia que foi por causa de mulher, ele era muito namorador.... Sua prima Luíza dizia que ele era assim, desde muito cedo, quando se postava na estrada da roça, para correr atrás das moças, que já tinham medo dele e fugiam , não podiam mais andar sozinhas, na comunidade....Desde criança, ele tinha, o que podemos chamar, atualmente de  surtos. Ninguém levava a sério. Até que, naquele dia, um domingo, após saída para uma diversão, as coisas ficaram insustentáveis.De hospital em hospital. Fugas e recuperações tratamentos de dureza clínica, incluindo claustro, choques e muita porrada e sedação, provavelmente, porque ele grande e forte, difícil de dominar . Sua tia não suportou o seu estado em uma das visitas e teve a sensação que estavam matando ele. Hoje eu tenho certeza, pelo conhecimento dos tratamentos, que eram dispensados aos doentes desta natureza, naquele tempo. Cresci sabendo de seu sofrimento e façanhas.Quando ele fugia, o hospital comunicava a família. Seu irmão Leopoldo diligenciava sua busca.Era primeiro sargento do Exército Brasileiro no Rio de Janeiro e estudava Direito.Uma vez, Marcelo fugira e não era encontrado em lugar algum, Tio Leopoldo o achou vagueando pela estrada de ferro, em uma cidade do interior do Rio de Janeiro, estado onde parte da família fora morar. Tio Leopoldo sempre vinha a Salvador, visitar os parentes. Com saudades, voltava a sua terra natal. Sempre só. Poucas vezes trazia a esposa  e a  filha. Em uma destas visitas, a notícia triste.Tio Marcelo estava morto, já havia sido enterrado."Não tinha mais condições. Ele era o antepenúltimo filho de tia Anália, tia de papai irmã de vovó.Tia Anália teve quatro filhos homens e uma filha."
Colett zolah

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Folhinha de santinhos

Todo ano, titio trazia calendários.O primeiro que lembro tinha rostos de crianças meninas
 e meninos todos os meses.Crianças bonitas brancas, penteadas e vestidas com esmero.Raramente havia uma menina ou um menino negro, podia ter com pele  amorenada, escura; nunca.... .Eu achava que faltava alguma coisa. Mas, nada podia fazer e não dizia também,Achava todos lindos, anos sessenta início os calendários eram assim. Na verdade eu não me via nas folhas daqueles calendários , nem via meus primos.Como até hoje eram brindes das casas comerciais aos clientes.Eu, criança de arrabaldes não sabia de muita coisa com certeza, que não estivesse ao alcance de meus olhos ou que pudesse percorrer com meus pés. Lá em cima, a rua principal eu sabia que estava lá.... Lá em cima, porque residíamos em uma ladeira, não muito inclinada, no nosso endereço; inclinada mais adiante. A rua principal ainda não era meu território. Por muito tempo, a rua pertenceu a meu pai, aos meus tios e primos maiores.A mim era reservado sair com vovó, sempre as compras e,  de vez em quando, à missa e visitar alguns parentes, vez ou outra a cidade, Baixa dos Sapateiros, , Avenida Sete de Setembro, um aniversário na vizinhança, um caruru, levar um santinho para benzer na igrejinha de Nossa Senhora das Graças, na Caixa D'água, isto  sempre eu,  etc.
Meu universo era  a casa de minha avó que naquele tempo era enorme.Suas coisas eram minhas.Eu era a rainha da casa e muito bem assistida que não podia ter consciência de nada da vida. Graças a Deus.
Certo dia  titio Duca trouxe um folhinha muito encantadora,diferente das outras de moças brancas de boca vermelha e dentes perfeitos ou crianças de pele rosada e belos vestidos e sapatos lindos, que eu gostava de ver sem dúvida.O calendário daquele ano, era cheio de pequenas imagens iconográficas dos santos.Todos os meses. Os santos do dia em cada mês.Achei interessante.Vovó não conhecia todos os santos, nem titio Duca, nem ninguém lá em casa.Eu amava aquela folhinhas. Por uns anos, titio as trouxe e eu ficava perscrutando os dias e fazendo perguntas sobre aquelas pessoas que eram santas e estavam no céu, com Papai do Céu. Poucos eram do conhecimento, isto me decepcionava. Depois, titio não trouxe mais.Vovó queria  guardar os calendários. Mas, eu recortei-os todos e tiveram fim. Hoje é possível saber a vida dos santos pela possibilidade de conhecimento pelas tecnologias da informação e comunicação .Amo isto, tanto quanto amava os calendários hagiológicos e mais.
Imagem de calendário hagiológico.google.com

Tudo tem um tempo certo

As vezes, é necessário uma instabilidade na vida, para que se desperte. Sempre lembro de Moisés, um personagem bíblico, cuja notoriedade é milenar, quando penso no despertar da consciência de identidade, a percepção da responsabilidade pessoal diante de certas situações.Sabemos que cada coisa ocorre naquele tempo que é para ocorrer. Moisés como exemplo, enquanto na casa real, membro da família real do Egito, mesmo que não tivesse todos os direitos, não acordava de forma completa, para a situação de seu povo na mão dos egípcios.Depois de ter cometido homicídio, tornar-se foragido, na casa de Jetro em Midiã, teve plena consciência do que poderia fazer, embora pensasse não ter condições.....Com o apoio de Deus foi lá e fez. Não foi fácil.... Mas, foi possível.A trajetória de Moisés foi dele, no seu tempo.Embora encontremo-nos, muitas vezes em situações similares, do tempo passado,temos a nossa trajetória de vida, nosso tempo. O passado é um referencial eficaz.
Livro bíblico de Êxodo.
Imagem:gooogle.com
Gal.


quinta-feira, 9 de junho de 2016

Antônio de Pádua

Bem apropriado, no período, esta reconstrução do rosto de Antônio de Lisboa, Santo António de Pádua, ora reverenciado.Esta reconstrução foi possível a partir de seu crânio preservado.
Achei genial. Pelo designer Cícero Moraes ; http://www.ciceromoraes.com.br/
Imagem:Forensic experts attempt to reconstruct face of St. Anthony". Catholic News Agency, 13/06/2014.. (Fonte Wikipédia)
Graça.