segunda-feira, 24 de agosto de 2020

 Sempre volto a Gênesis porque agora compreendo melhor. Os escritos do livro de Gênesis são vários. São compilações reunidas que nos dão muitas pistas. A parte que o homem desobedece a Deus e antes disto. Que história, a maioria das pessoas leem e não veem algo tão claro e tão interessante

domingo, 23 de agosto de 2020

Pessoa - Marina Lima

Mosca na sopa

 Não gostamos de falar de morte, nem de baratas, ratos, cocô, mijo, mosca. Onde, que isto é coisa estranha a vida de todos nós? Qual o problema? Tinha um colega na escola fundamental, o Sidney. Uma pessoa extremamente versátil; digo isto hoje. Quando o conhecia, não sabia que adjetivo usar,ele era considerado desajustado pela nossa escola, ainda muito repressora, nos anos setenta, do século passado. Havia no currículo escolar da época, o que era chamado de Atividades Livres. Mas, recebíamos notas e tínhamos de ter frequência. Ditas "Livres", porque era da nossa escolha.Eram obrigatórias, para a integralização curricular. Podíamos escolher uma ou duas em cada semestre. Fiz quase todas:Educação para o Lar, Artes Industriais, Técnicas Comerciais, Teatro, Dança, Música e havia também filmagem, se não estou enganada, ligada ao jornal... Não lembro direito agora....Lembro que um acontecimento causou grande impressão em mim por causa do horror que se tem de certos insetos e coisas que naõ se gosta de falar.

Estávamos em Educação para o Lar. A sala de aula era uma casinha. Saleta, cozinha completa, quarto, berço. Interessante; não tinha cama. A professora muito compenetrada falava de tudo, que era óbvio para mim, aqueles assuntos eram do meu conhecimento, acho que de todos nós, por mais pobres que fôssemos, sabíamos o que fazer em uma casa, mesmo que de costume não fizéssemos. As aulas decorreram com Sidney sempre palpitando e sendo repreendido, ele não se importava. Poucas vezes era aplaudido. Havia algo contra ele. Talvez porque fosse escura a sua pele e seu cabelo se apresentasse em bagas, como se ele não penteasse,....seus olhos eram muito grande, com aquela expressão de que tinha o mundo todo dentro. Ele tinha outro mundo. Sua imaginação e inteligência eram excepcionais e , certamente que isto era um incômodo. Pessoas como ele, como nós, não podiam ser inteligentes , nem criativas, nunca deveríamos nos sobressair. Nunca teríamos razão, mesmo que tivéssemos.Entendo assim , agora....

 Mas, chegou a hora de praticarmos alguma coisa. Já havíamos estudado de forma breve a importância dos alimentos frutas e verduras fizemos uma vitamina de frutas, um frapê de todas as frutas possíveis, eu só pude levar laranjas, Sidney levou abacaxis e mangas . Esta prática terminou em paz , mesmo com as reações da professora e as investidas do Sidney . A professora reagia sem cabimentos com o Sidney. Hoje eu me pergunto qual seria o problema dela com o meu coleguinha. A coisa ganhou proporções amedrontadoras na prática da utilização das verduras. Fizemos uma sopa de verduras.Após o cozimento liquidificamos tudo e depois fervemos um pouco mais. Me comportava com muito cuidado nesta aula porque eu via a reação da professora com os outros colegas e não queria aborrecê-la, que fizesse da mesma forma comigo, de jeito nenhum... O clímax se deu quando a professora pediu que contássemos como foi todo o processo. Poderíamos escrever, desenhar ou dizer oralmente

Escrevi e desenhei o processo, como um croquis ; Sidney aplicava-se a um desenho. No final, a professora disse. O tempo de preparação acabou, como é que cada vai contar? Começaram as explanações. Chegou a minha vez, expliquei meus desenhos, outro e outro e chegou a vez de Sidney. A professora ficou paralisada. Seu semblante tinha algo estranho eu não conseguia definir e quando ela virou o papel para nós; lá estava a cena. Um menino que certamente era ele de perfil, o próprio autor do desenho, o Sidney debruçado sobre um prato de sopa e com linhas pontilhadas, partindo de seu olho, bem arregalado e terminando dentro do prato no líquido, a sopa em uma mosca bem nítida, sobre a sopa. Achei o desenho muito interessante! A professora vociferava. Isto aconteceu aqui?  Não havia acontecido. Não vimos nada daquilo. Invenção de Sidney eu disse, acrescentei uma brincadeira dele! A professora muito zangada virou-se parra mim e disse: isto é muito sério, por ser falso. Não ocorreu aqui! Eu solicitei que se relatasse da forma que quisesse o que se passou aqui. 

De certa forma ela estava muito certa, eu entendia. Mas, eu achava que aquela raiva toda era um exagero. Foi um horror. Vi o medo e a frustração no rosto lívido de Sidney. Notei que Sidney era muito estranho entre nós. De repente seu semblante passou a demonstrar uma grande dor e ele disse. Desculpe professora, por favor me desculpe .Eu pensei nisto. Eu pensei, não aconteceu aqui. Aqui não tem nem mosca, eu não vejo nenhuma. Minha ideia. A professora pediu que ele contasse oralmente as etapas do processo ocorridas naquela sala casa.... Ele relatou de uma forma bem humorada e as gargalhadas estancavam a cada sinal da professora. No final  a sua avaliação foi muito boa, não foi melhor por causa de todos os incidentes na aula... a professora era passional. A minha também não foi excelente. Foi boa. Ganhei um oito.Naquele tempo queríamos sempre boas notas, excelentes notas. Outro tempo. Havia medias a alcançar e, na maioria queríamos sempre estar por cima da média, o que nem sempre era possível por diversos fatores.

 O mais forte fator eram os professores e suas cargas. A professora não considerou meu portfólio dos encontros, naquela sala e que eu nunca havia criado contrariedade, que fazia tudo...Mas, eu só levara laranjas e abóbora para a prática dos alimentos, talvez isto a contrariasse, eu pensava assim  na época.Talvez, ela quisesse variedade de frutas e verduras. Na maioria, levamos o que tinha em casa. Fiquei com lembranças úteis, daquele curso e nunca poderia esquecer o Sidney. Um menino sempre limpo e esperto, criativo e fora da caixa, na nossa grandiosa escola. Estou pensando como estará ele agora. O que faz.Deve ter filhos e netos. Estará vivo?  

Graça Nunes.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Meus invernos.

 Comecei a prestar atenção nos dias chuvosos. Havia uma grande preocupação com a chuva, naquela época por causa da casa de minha avó, que era uma casa antiga e já estava vencida. Não havia dinheiro suficiente para uma obra. Sendo desta forma, vivi um inverno memorável.As paredes mais vulnerabilizadas da casa cederam.Elas caíram literalmente diante de meus olhos.  Vovó ficara assustada  e triste. Titio também. Ele ainda não trabalhava em uma boa empresa. Só papai trabalhava e já havia se casado novamente. Tudo era baseado na pensão de vovô que vovó recebia  e tinha também a minha pequenina e especial pessoa. Então eu não podia ficar exposta ao frio e bichos.Vovó e titio, fecharam a parede toda com o que puderam e ninguém via nada, da situação da parede, por que havia a casa de Sr. Deraldo, afastada da nossa, por um pouco mais de um metro.Mas, tomava-se pé da situação, quando se entrava. Toda a roça da irmã de vovó, fora loteada e quando Sr. Deraldo fez a medição de seus  lotes, do lado de nossa casa, houve um avanço para o fundo, afunilando o corredor da lateral da casa de vovó. Ela já morava primeiro. Mas, houve este avanço e, mesmo com a insistência de papai para resolver, vovó achou que a medida era tão pouca que isto não influenciaria muito na nossa propriedade e ele acomodou. Mas, ainda lembro dele querendo ir resolver, com uma picareta na mão, partindo para ir arrancar os marcos do lote vizinho. Uma agonia que me abalou. Eu era muito pequena. Lembro que chorava e gritava com a confusão dentro de casa. Não sei se esta foi a primeira que presenciei de papai...Depois eu vejo isto. Mas, quando chegou o inverno de 1963, eu já estava na escola. Minha professora, chamava-se Angelina.Eu ia com ela todas as manhãs. Um pouco depois das doze, eu retornava , com ela e via minha avó, que estava sempre na janela, de olho na estrada, me recebia como se eu chegasse de uma viagem distante. Estava me esperando para almoçar.Se fosse uma sexta-feira, comíamos peixe;  corvina de moqueca ou frito, com arroz e feijão e farofa. A farinha não poderia faltar, nem a banana. Havia muitas bananeiras na região. Mas, no inverno eu via muitas touceiras de bananeiras, do outro lado do vale desabarem,  uma atrás da outra,da forma, como hoje conhecemos, o efeito dominó. Algo impressioante. Mas, quando as chuvas passavam,lá estavam todas, de pé. As da casa de Tutucambe pareciam que eram inabaláveis. Tutucambe é uma história que acho que já contei. Mas, quero só falar de inverno agora. Depois de um tempo considerável, a casa foi refeita e ficou bonitinha, casa de pobre de roça.Cheia de carinho. Titio e vovó sempre cuidavam dela. Queriam preservá-la. Todo o trabalho de limpeza e higiene ficava com titio.Até mesmo as flores, para decoração. A tradição portuguesa era muito forte. Toda casa naquele lugar tinha  que ter jarrinho de flores sobre a mesa. Eu sempre gostei muito de flores, aprendi a gostar com meu pai, meu tio, minha avó. Pessoas muito doces.Tínhamos um pequeno jardim que durava de inverno a inferno.

Meus casaquinhos de lã de verdade estavam bem ajustadinhos. Mas, eram tão importantes para o inverno, me aqueciam tanto que eu nem ligava para o aperto.Eles iam comigo de inverno a inverno, aonde quer que eu fosse e poucas pessoas me chamavam para vê-lo de perto. Ficavam tão encantadas que eu gostava de saber que tinha algo, que era interessante para as pessoas. Porque eu não tinha muita coisa e era considerada uma garotinha feia, quando criança. Por que? Eu tinha a pele amarelada. Meus cabelos eram vermelhos e crespos. Muito cheios, davam trabalho para pentear e, como doía quando passava o pente, eu, muitas vezes, não deixava vovó pentear direito e vovó aceitava porque dizia: ela sente dor. Então eu ia penteada como era possível para os lugares. Era também  gordinha e barriguda. Eu era monstruosa. Uma criança esquisita. Não entrava nos padrões da época.Mas, lá em casa eu era a rainha e me achava muito interessante. Senti-me aceita e ser muito mimada, me dava muita segurança pessoal e autoridade. Eu não tinha vergonha de nada. Era espótica e locaz . Quando fui para a escola, a minha eloquência causou-me problemas.Uma menina como eu não podia falar muito e estar sempre dizendo o que acha.

A medida que fui crescendo fui descobrindo minha vida. No inverno de 1963, o frio era mesmo intenso e eu vivia  com um capote que não me cabia mais. Então, a esposa de papai deu-me um capote que era dela. Deu-me também uma sombrinha. Agora eu tinha um capote, bem maior.Uma capa. Tinha uma sombrinha grande. Aquele capote não me agradava.Aquela sombrinha enorme, eu gostava da cor amarelo ouro, cor do  nascente no verão e ouro bom das tarde verônicas. Bem, como eu era pobre, sentia frio, aquelas doações eram bênçãos.. Vovó dizia: seja grata. Eu não via nada para agradecer. Mas, agradecia e usava com gosto.Eu precisava. Fazia muito frio. O casaco me esquentava. Tava dentro do que era. O casaco de lã de verdade ,valia para a noite. Desconfortável! Mas eu sentia frio e precisava de usar algo mais limpo, para dormir. O outro andava na rua. Nas minhas corridas. Sempre me diziam para não correr. Não corra, não corra, não corra. Mas, correr era o que mais aquecia e eu parecia uma cabra, cabrita ou uma mula no campo da escola. Lá ninguém me impedia.Até a professora Angelina ver. Maria das Graças, cuidado para não cair, sua avó não quer que você caia. Eu estancava até ela voltar para onde estava e não me ver, para eu voltar a correr. Quando ela não estava olhando, eu voltava a correria, naquele chão barrento da escola ou me jogava no gramado molhado. Naquele ano, meu primeiro ano de escola, meu pai achara sem importância fazer minha farda. 

Eu ia para a escola como se fosse para um aniversário, com a capa  que minha madrasta mandara para mim por cima. Algo diferente inusitado. Gostaria de estar de farda, como as outras poucas meninas. Nem todos tinham farda no primeiro ano e nem todas as meninas tinham vestidos bonitos e fitas coloridas, somente eu. Tampouco uma capa de malha de lã, estranha como a minha. Isto afastava. Eu vivia só. Mas, tinha Manoel e Everaldo que corriam atrás de mim sem eu pedir. Eles amavam me ver correndo Eram crianças como eu . Não sei porque era assim, no segundo ano eu não parava o recreio todo, só correndo, correndo, dando voltas no campo da escola com Manoel e Everaldo correndo atrás de mim. Vou te pegar, vou te pegar. Interessante isto. Acho que era para compensar o tempo sem exercícios em casa.

Eu adoecia muito quando criança. O colchão era de palha, com um forro listrado. Achava que aquilo era só lá em casa . Eu não gostava. O cheiro era sufocante, eu me sentia mal. Fazia tudo para não sentir.Mas, percebi que era algo comum, quando passei a ir na casa de outras pessoas e olhar discretamente para um quarto cuja cama estivesse desforrada para ver  as listras azul escura ou pretas na cama  o famoso colchão. Todo pobre tinha daquele colchão..Não sei se ainda existe. Achava que era aquele colchão que me fazia adoecer..Ainda não tínhamos a espuma. A doença era suportável pelo carinho e cuidado de vovó. Depois da tormenta da febre, era uma ressurreição. No inverno sempre tinha um nhem,nhem,nhem. Ficava muito triste por não poder  ir a escola. Por outro lado adoecer era tão bom. Muito colo, muito dengo. E, quando a gente retornava, depois de uns dias em casa, a receptividade era tão boa que dava gosto, uma doença...

O que você teve? Caxumba....Gripe, sarampo, dente doendo. Garganta.  Cai e desmenti o.. Foi a chuva, choveu muito, não deu para sair de casa...Sim, para não se molhar , ficar gripado e até morrer... Meu Deus!!!!! Um outro mundo.A canção de recepção:"Bem vindo, bem vindo, bem vindo.Sentimos falta de você.Agora você voltando, que beleza te ver.Seja sempre bem vindo . Fique conosco e não nos deixe mais. Não falte mais, não nos deixe mais."Hoje , eu entendo, que era uma canção anti evasão escolar. Eu sorria. Mas, tudo aquilo me aborrecia. Eu estava ausente por necessidade. Eu sempre dizia: "Eu queria muito vim para escola. Mas, não podia....". A cantoria estridente e a cara daqueles e daquelas que não me suportavam por causa da minha roupa. Eu não tinha a palavra certa. Mas, era inadequado.Aprendi esta palavra com vovó. Não caia bem; esta expressão, aprendi com papa .(Continua....)

Graça Nunes


 


domingo, 9 de agosto de 2020

Elvis, Jesus e a Prostituta -Bridge Over Troubled Water (Legendado)

Uma doença grave.

 Bem, estamos realmente na eminência de uma epidemia mundial.Não houve controle; as pessoas se movimentam muito, no planeta e  as coisas aconteceram desta vez de forma aparentemente imprevista no Litoral Oeste do continente africano.Desde Março deste ano a epidemia está crescente e houve muitos movimentos no mundo. A Copa propiciou parte desta movementação para o nosso país.Os litorais são zonas de difusão.Enquanto a vacina não está  pronta, muito menos disponível é importante prestar atenção nas medidas de prevenção. Um vírus que tem semelhança com o da SIDA. Estes vírus já são considerados como armas biológicas por causa da potencial via de transmissão - gotículas minúsculas inaláveis.Considera-se o morcego como hospedeiro natural. O Ébola  surgiu no continente africano no final do século XIX , anos setenta e tem história sobre isto Contágio: via respiratória e fluídos corporais.As pessoas terão de manterem-se afastadas uma das outras. Um vírus inteligente para o sistema imunológico humano. O vírus está alastrado exatamente onde foi descartado; em regiões de baixa salubridade por falta de medidas sanitárias, baixa possibilidade de informação de suas aldeias nas zonas rurais.. O ideal é buscar o conhecimento sobre esta bomba. Bomba de fogo. Precisamos de prevenção.Será que dará tempo?
Graça Nunes.
09 de agosto de 2014.

sábado, 1 de agosto de 2020

Um Galo Batuta

Batuta era um galo daqueles, gigantão. Tomava conta de tudo. Algumas amigas estavam aqui, eu estava doente. Entraram em paz. Eu avisei sobre Batuta. Ele voa em cima. Mas, Batuta não andava só;.ele tinha um fiel companheiro irmão, muito mais violento que ele, que eu nomeei Roland. Não sei por que este nome. Mas, combinou tanto, porque Roland era galo de briga, cresceu esbelto e ágil e o lugar ideal para ele era uma Rinha e eu não sabia.Devido a sua violência com as galinhas e as pessoas, mandei imolá-lo. Na ocasião, uma amiga veio aqui e me animei tanto que sai para a varanda e pedi que fechasse o portão. Batuta costumava vir silenciosamente e ficar de tocaia, quando chegava gente, para voar em cima. Surpreendia a pessoa, na altura do rosto. Ele de um lado e Roland do outro. Negócio sério. Gritaria, vassouradas...Ah! Eles não desistiam e eram sanguinários. Só paravam ao som da vassoura de ferro, quando arrastávamos a vassoura de ferro, no chão cimentado na direção deles. Por um momento minha amiga viu Batuta agachado próximo ao portão da varandinha e foi falar com ele, ela esquecera que ele era terrível, ele voou rapidamente para atacá-la, eu gritei. O portão foi fechado violentamente, freiando ele e o rastelo entrou em ação, afugentando-o para adiante. Ai , que horror!!!

Certa vez, Batuta e Roland encurralaram o vizinho, no canto da parede(risos). Voavam os dois para cima dele e ele tentava se livrar, colocando o braço e  tudo que pudesse, para se livrar, até que Bárbara trouxe a vassoura de ferro. Da segunda vez, este mesmo senhor foi  escarrerado. O vizinho, um amigo; uma cena impressionante, o vizinho corria, apavorado, no sentido da saída e, na corrida, se desequilibrou caiu, levantou e saiu correndo, mancando e as aves na cola dele. Pedi alguém para correr lá e ajudar....A vassoura de ferro entrou em ação. Outra vez, eu ainda usava moletas. Não estava traquejada para uma corrida daquele jeito e, por um lapso, sai; quando olhei, Batuta e Roland estavam vindo, determinados, na minha direção.Senti que eles me pegariam, sim. Tinha certeza disto e me vi desabando com moletas e ataduras e tudo mais...Gritei por socorro. Bárbara veio rapidamente e os afugentou. Percebi que era necessário limitar o espaço de convivência deles. Mas, antes de isto se concretizar, antes de por limites para eles,  um rapaz, que estava trabalhando aqui em casa, chegou em tranquilidade e não sabia que seria recebido pelo gigantão. Foi sério. Ele ameaçava o galo com o serrote e ele não desistiu. Serrote, vassouras, ...  as pessoas eram todas do bem, só ameaçavam.Enquanto Bárbara procurava a vassoura de ferro, Batuta encarava o jovem, não atendia ninguém. Na luta,  em um voo muito alto , na rampa em direção a cara do referido rapaz, Batuta desequilibrou-se e caiu, barranca abaixo.Mas, não desistiu retornou rapidamente para atacar o rapaz novamente....A vassoura de ferro chegou.Só assim ele cedia.

Nunca me atendeu. Quando eles; Batuta e Roland, estavam ainda jovens, me deram um violento carrerão.Eu cai sobre gravetos e espinhos; não pude nem  sentir a queda e furadas. Eu só pensava em fugir, deles. Para alimentá-los, eu jogava o milho distante, para eles irem e depois, continuava jogando para as outras aves. Batuta atacou Almiro, o galo do vizinho junto com Roland e deixou o galo em uma situação deplorável. Almiro, não morreu porque fugiu, quando atentamos e fomos separar. Desse dia em diante, Almiro não mais arrastou asas para as minhas galinhas, nem ultrapassou a cerca que dividia os quintais. Porque mesmo que quisesse, ao perceber os dois galos daqui, fugia louco e resmungando.Quando eu sofri um acidente sério, tive ajuda de outras pessoas.Mas, Batuta somente me atendeu, depois que  eu percebi que ele estava doente.A queda que ele levara ao atacar o rapaz na subida, fizera o seu próprio esporão entrar nele. Como ele era valente demais para parar, ninguém viu nada. E depois de certo, tempo ele deixou de ser ativo. Passou a ficar em lugares isolados e molhados, até que um dia eu percebi que algo estava errado com ele. Eu não podia me meter nisto, estava operada e esperei ele ficar em uma posição favorável para vê-lo de perto. Choquei-me ao ver que ele tinha um buraco enorme, cheio de larvas de moscas. Me desesperei.Eu não tinha ideia do que fazer...

Então, fui na loja Pet que tinha veterinário.Mas, ele não estava. Eu já frequentava esta loja e tinha um rapaz que era um pessoa muito agradável. Ele  procurou saber se eu queria marcar..Então eu conversei com ele e disse que não queria marcar nada, que tinha de ser urgente. O galo, aquele gigantão estava bichado. Como, assim? Havia se ferido e ...Então ele me  disse: a primeira coisa que tem de fazer é eliminar as larvas do ferimento, com um desinfetante, que as mate mesmo. Nesse caso, a Sra vai usar misturado com água, depois vai dar-lhe  um antibiótico injetável, e uma pomada, para a ferida. Na loja tinha tudo e ele já tinha experiência no assunto.Naquele dia ele era o médico veterinário, na loja, para mim. Tudo foi providenciado .Adquiri tudo e chegando em casa, fui cuidar da ave. Eu não comecei bem. Batuta era um galo muito pesado. Apliquei o desinfentate. Mas, não foi eficaz. No dia seguinte, pedi ajuda ao vizinho e ele carregou o galo e tirou-lhe as penas da região afetada. Verifiquei que havia movimento de coisa viva no ferimento, não tive pena e apliquei creolina pura. Os morotós começaram a cair e persistiram caindo e caindo.Notei que Batuta tremeu, achei que ele não iria suportar. Resolvemos fazer uma casa, só para ele e alta, para que eu não precisasse me abaixar, eu não podia. No dia seguinte lavei batuta com uma solução mais fraca de detergentes mais leve, ele estava limpo; apliquei-lhe uma dose do remédio; a pomada sarativa só poderia ser aplicada quando ferimento estivesse deshabitado.

Ferimento limpo, tratado, com curativo; Batuta abatido e apático. Eu estava decidida a mantê-lo vivo. Roland já havia sido imolado. Mas, eu não pretendia me livrar daquele galo tão valente. E, continuamos cuidando..Batuta voltou a comer, cuidando, aplicamos todas as doses do antibiótico injetável, até que a ferida foi fechando. O ortopedista conversava muito comigo e me disse que eu não poderia estar cuidando de bicho algum. Muito menos de ave. Mas, eu já estava na estrada. Tomei mais cuidados. Com a ajuda de meu vizinho, a quem sou muito grata, pela amizade, atenção, cuidado e respeito. Ele cuidou de Batuta que o escarrerou. Mas, afinal era um animal. Não era uma pessoa. Cuidamos das pessoas, quanto mais....Vimos o gigante ressurgir, também com a atenção de Bárbara, na ocasião, minha ajudante. Logo  uma rampinha de madeira foi colocada para que o gigante descesse.Ele estava curado. Pronto para viver e vencer.

Batuta demorou a descer a rampa da sua casa alta. Parecia não ter jeito. Estava inseguro. Me olhava de um jeito diferente. Talvez, gratidão de galo. O seu olhar parecia com o das galinhas a partir dali e depois, que desceu da rampa , nunca mais correu atrás de ninguém. Continuou morando sozinho. Mas, se comportava como um galo saudável. Engordou três vezes mais. Virou uma bola que mal conseguia andar. Disseram que  eu havia dado Cobavital, Buclina, ou ração de engorda. Por isto ele estava enorme. As crianças da vizinhança já se aproximavam dele com mais confiança.Ele sempre conversava alegremente com as galinhas, nas refeições e ciscava para elas. Tornou-se amigo dos patos. Como ele era arredondado.. uma bola branca e linda. Eu o amava. Certo dia era um domingo. Algo estraçalhou o silêncio. Ouvi uma voz de jovem do sexo masculino gritar lá fora, na estrada." Batuta, seu boiola!" Fui ver, algum jovem que havia passado. Não havia mais ninguém.Foi alguém,
desrespeitando aquele nobre galo. Não gostei.

 Pessoas experientes em criação de galinhas, começaram a analisar o galo. Certo dia uma senhora me disse. Você quer muito bem a ele. Mas, terá de matá-lo ou ele adoecerá de novo e certamente que você sofrerá.Ele está muito gordo. Eu não queria mais vê-lo doente. Quanto ao sofrimento, o dele...Achei que seria uma boa ideia. Então chamei alguém para imolá-lo.A única pessoa que podia fazer isto mais próxima era o vizinho e ele faria com muito prazer. Queria comer o galo, sempre se dirigia a ele:" Batuta, você está bom de ir para a panela.". Batuta foi levado para o abate. De repente eu me arrependi e fui buscá-lo. Ainda lembro de ter visto Batuta, a sombra dele na parede da casa, lá dentro, por uma fresta na porta. Queria tirá-lo de lá. Era melhor que ele morresse de velho. Não, não, por favor. Não faça isto. Batuta!!! Por favor, abram esta porta. Sem resposta. Bárbara me olhava e no seu olhar, eu via  a minha loucura. Eu não estava me comportando bem.Precisa me acalmar, colocar os pés no chão. A culpa era toda minha. Eu o havia entregado a morte. E sua ingenuidade animal, matava. Ele estava  lá, eu havia visto sua sombra, seu jeitão gracioso;Batuta!!!

Mas, chegou  uma antiga ajudante aqui em casa, no exato momento que eu voltei da fracassada, da fracassada recuperação do galo. Ela me disse. Se cria ave para abater. Você teve tanto trabalho com aquele bicho, não quer ter o retorno? Que negócio é este? E, assim, uma panela de água foi colocada no fogo para ferver. Era um crime que se desenrolava e eu era a mandante principal, não haveria sangue literalmente, na minha casa, porque o sangue estava sendo derramado, na casa do executor de minha ordem. Eu não prestava mesmo. Eu era uma nojenta, uma miserável! Uma mulher velha amalucada, fria. Perigosa. O vizinho veio buscar a água fervendo e tempos depois, trouxe batuta sem penas um corpão gordo, descomunal, rosado de galo, devia estar ainda quente. Algo horrendo. Um cadáver ainda quente. A ajudante recém chegada, dizia que galão! Barbara, pôs-se a tratar, limpar melhor e esquartejar aquele corpo que antes mediou tanta valentia e graça. Mas, eu não queria sofrer mais. Era muita carne para uma casa e uma pessoa.

Tudo de Bárbara é demorado. Certamente que não ficaria tudo pronto naquele dia. Solicitei a ajudante que deixasse ela cuidar disto. Então ela disse que já ia embora. O corpo de batuta foi distribuído. Eu acho que o comi, sim. Lembro de um comentário: carne boa. Senti-me culpada.....
Maria das Graças Pereira Nunes.