quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Vela e incenso.

 Acender velas é perigoso. Mas, a luz da vela tem o poder de relaxar. Defumar as casas, hábito frequente em final de ano e comum em casa de prognosticação e até na Igreja Católica, durante a missa, pode ser um ato ligado a fé e fé no insólito. Um ato antigo. Fogo e incenso não podiam faltar na adoração de Jeová, no Tabernáculo, desde o ermo até o Templo, no monte Moriá, em Israel. Além disto é uma medida higiênica, além das crenças alheias,a fumaça afasta insetos que podem ser nocivos a saúde.Mas, faz quem quer e tem motivos.Mas, preste bem a atenção: tudo que fazemos na Terra é sentido em toda ela e no Universo.

Maria das Graças Pereira Nunes.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Jesus nasce em Belém, segundo os Evangelhos.

Maria das Graças Pereira Nunes Oliveira*

Bem, Jesus nasceu em um estábulo, conforme a narrativa dos Evangelhos, por causa do contexto. Maria grávida e José chegaram a Belém em um momento difícil, havia muita gente lá. Como eles, muita gente teve que ir para Belém. Judeus, nascidos em Belém, que haviam saído para outras localidades do país, estavam lá. As casas e hospedarias estavam superlotadas, todos iriam fazer um registro, por ordem do rei patrocinado por Roma; o rei Herodes. Quando o casal chega; onde ficar? Maria entra em trabalho de parto. Exatamente, naquela situação, chegou a hora de Jesus nascer. Eles não acharam lugar. Outro detalhe; eram judeus de Nazaré, fora da caixa. Havia um preconceito com o povo da Galileia, dentro do próprio país.  Ninguém queria ter dó deles. Eram da Galileia, de Nazaré.Vamos imaginar que, em todas as casas que bateram, em todas as hospedarias que tentaram, havia dificuldade de alocar e, ainda,alguém de barrigão, que passava mal, estando na hora de parir.

Uma nazarena na hora de dar a  luz e um senhor de meia idade alucinado, para conseguir um canto; já tinha gente demais naqueles lugares. Maria precisava de um lugar seguro, para parir. Não se achava.... Tudo serviu para mostrar, que Jesus não se sentiria confortado no meio de seu povo. Ninguém sabia quem era o bebê. Mas, todos estavam já em oposição. A energia de oposição chegou primeiro, para fechar Jesus. Apesar de tudo ele nasceu legal, ele estaria bem em qualquer lugar. Tudo com ele era puro poder. Nasceu um híbrido, poderoso. Sim, Jesus nasceu em Belém, Efrata, numa estrebaria, junto com os animais, bois vacas, ovelhas, carneiros, cabras....Ele não achou acolhida entre os homens, nascendo como animal, em meio a animais  superiores. Estava bem acolhido ali, na estrebaria. Diferente da  acolhida característica  do gênero que passara a pertencer, desde a sua encarnação, no momento de vir a luz deste  mundo.

"E o verbo se fez carne e habitou entre nós." Evangelho de João, o evangelizador, não o batista.

Nós nunca entendemos Jesus de fato. Me transporto agora. Estou na cena e vejo o bebê. Parece mais um bebê, como tantos outros, que provavelmente, nasceram naquele dia. Um dia remoto. Há milênios.  Um bebê, algo interessante. Maria sabia. Talvez não pensasse em nada, devia estar um pouco cansada, nunca havia parido. Parira o filho de Deus Jeová. Devia estar lembrando da presença do anjo, seu amigo, falando com ela, mandando ela se acalmar. Era uma mulher favorável  aos olhos do Altíssimo. Ela somente via seu bebê.Um momento sublime. Nada mais importava. O mundo  havia parado. O Universo estava ali. Somente  ela, o bebê e José, o guardião. Ela precisava  de proteção, para maternar Jesus. As narrativas dizem que Jesus nasceu durante a noite. Uma noite inesquecível. Uma noite memorável. Nasceu um menino. Um menino que já estava no processo de ser humano, por Deus que tudo pode. Um ser antes espiritual, nasceu ali.

"Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz." Isaías, 9:6 

Sim, um bebezinho com tanta responsabilidade! Como seria? Mas, ali estava um bebê. Frágil, pequenino, indefeso. Mas, em paz e seguro. Ele tinha o aparato de Jeová, seu Pai. Era noite. O Evangelho de Lucas diz que os pastores estavam no campo. Os pastores tomaram conhecimento de fenômenos( hoje podem ser considerados OVNIs) e foram envolvidos, pela energia da noite alegre. Anjos avisaram aos pastores, que estavam com seus rebanhos no campo que havia nascido, um Salvador (Israel estava sob o controle de Roma). Notícia aprazível. Os pastores desejaram ir de todas as formas a Belém e foram. Conforme  a indicação angélica, aos pastores, a criança estaria enfaixada em uma manjedoura. Os pastores sabiam onde era possível ter, encontrar manjedouras e, não erraram o caminho, nem precisaram perguntar nada, não precisaram ir a autoridade política máxima de Israel. Encontraram a criança, em um estábulo. Não achavam, que o bebê novidade estivesse no palácio real

Jesus nasceu naquela noite. Amanheceu. Maria, na estrebaria, se recuperava do parto. Quando nascia uma criança, havia requisitos a atender, seguindo a Lei de Moisés. A Lei de Moisés era milenar. De quando Moisés guiava o povo no ermo, as estadias no deserto, a invasão da Terra de Canaã, o estabelecimento das tribos, todo o processo até aquela noite, muitos séculos. Muita História. Jesus nasce quando Israel é um país. Depois de um longo currículo. Mas, Israel não é um país independente, quando Jesus nasce. Está sob o domínio romano e já passou pelo domínio grego.Israel tem um rei patrocinado, que não é judeu e se considera judeu legítimo, da família de Davi para ter direitos. Herodes. O rei de Israel, Herodes o Grande, é idumeu, edomita, não é da família de Judá  e tem filhos que são nomeados governadores de regiões do país.  Herodes e sua família representava o poder.

 Os pastores já chegaram, honrraram o bebê com a energia da alegria pastoral doada pelos anjos, que lhes apareceram nos campos. Depois voltaram para o seu cotidiano, certamente que tudo mudara para eles. As pessoas da redondeza do local de nascimento, estavam curiosas; um bebê na manjedoura! Um bebê em um estábulo! Oh! Oh!...Os dias se passaram e acabou o registro obrigatório, a cidade se esvaziou, tudo voltou ao normal. Agora, Maria, o bebê e José podiam sair da estrebaria e habitar em uma casa. Maria havia parido e tinham obrigações em relação a criança, determinadas na Lei Mosaíca, tiveram que dar um tempo em Belém. Depois dos dias de resguardo, e queda de umbigo o bebê do sexo masculino tinha de ser levado ao templo, para alguns rituais judaicos, entre eles a circuncisão. Os judeus fazem assim, até os dias de hoje. 

Mas, hoje, não fazem mais no templo de Jerusalém. Deste imóvel restou-lhes um muro, apenas  um muro, para lamentar. Edom domina Israel religiosamente. No lugar do templo está a Mesquita de Omar o Zimbório da Rocha do Islam. Um templo dedicado a Jeová foi construído no Brasil, pelo líder da Igreja Universal do Reino de Deus, um imóvel notório. Mas, sabemos que Deus não mora em um lugar especifico. Ele está onde quer estar. Podemos dizer que Deus está em todos os lugares.Necessário outra conversa, para abordar este assunto. Mas, voltemos para Jesus no Templo. Porque, quando Jesus nasceu, havia o templo em Jerusalém, no Monte Moriá. Um templo ativo.Jesus foi apresentado em rituais lá e a bíblia conta que havia duas pessoas idosas que se regozijaram muito. Simeão, um homem bem idoso, que recebeu Jesus nos braços, no templo e Ana uma mulher que nunca se afastava do templo.Mas, Lucas não cita sacerdotes.

Houve uma emoção e profecias na ocasião, em que Jesus foi levado ao templo, para os rituais de purificação, registradas em Lucas, capitulo 3. O Evangelista Lucas, não menciona os "reis magos do oriente". Mateus, o Evangelista menciona. Conta o motivo de terem saído de seus lugares,  terem viajado até Israel. Eles eram astrólogos, magos, bruxos, prognosticadores de eventos, reis...três entidades com acompanhamentos. Saíram de seus distritos, porque sabiam dos assuntos, percebiam eventos e viram  uma "estrela" no céu. Talvez, tenham presenciado alinhamento planetário, como tem ocorrido estes dias. Por suas atividades obtiveram a revelação de que havia nascido um majoritário, um rei em Israel. Mas, como? Quem eram estes personagens de verdade? Eles eram muito bem informados, então. Não eram de Israel. Mas, sabiam que podia nascer o rei do lugar e, mesmo não sendo judeus, estavam em alta ligação.

"Os três reis magos do Oriente" que vieram ver Jesus em Belém, não tinham a informação correta, sobre a localidade. Foram guiados por uma "estrela"(um OVNI), uma Luz, no céu. Um fenômeno. Esta "estrela" os levaram para Jerusalém, não para Belém. Eles foram parar no palácio do rei de Israel, depois de causarem uma agitação na cidade. Agora preste atenção; Herodes era o rei do país. Eles anunciaram ao rei, que estavam ali, para ver o rei de Israel que havia nascido. Eles esperavam ver o rei recém-nascido no palácio real. No palácio de Herodes, que estava ouvindo isto. Esta apresentação bateu em cheio em Herodes, que sabia ser, um usurpador. O quê?!!!!! Como podia ser isto? Parece que o rei também já tinha ouvido falar da profecia. A situação se configurou em uma ameaça para Herodes, que de cara ficou surpreso; uma conspiração contra ele e procurou saber dos senhores astrólogos, quanto tempo tinha a visão da "estrela". 

Depois disto, Herodes o rei, majoritário em Israel, disse-lhes que procurassem o bebê e quando achassem, voltassem ao palácio para dizer onde estava. Ele também queria ir ver o bebê e adorá-lo, como aqueles homens, que vieram de tão longe, para isto, ele também queria. Os astrólogos seguiram para procurar a criança. A esta altura, deviam estar achando tudo estranho. Havia um rei em Israel, a criança real não estava no palácio do rei, que nem sabia da existência dela; que história era aquela? Mas, eram homens de mente e espírito aberto. Recebiam mensagens, eram abertos, no sentido espiritual. Como todas as pessoas que lidam com insólito, sem o conhecimento do poder verdadeiro. Todos que especulam coisas  espirituais, praticantes de magia, feiticeiros, prognosticadores de eventos e os que procuram presságios nos astros, com ou sem categoria. Se comunicam com todas as vias do domínio espiritual.

Eles estavam de coração limpo. Estavam em uma situação, que nem mesmo eles sabiam. Foi permitido que a "estrela" lhes mostrassem onde Jesus estava. Não mais em uma estrebaria. Mas, em uma casa e Maria e José já tinham cumprido com os requisitos da Lei, para purificação pós parto, Jesus, provavelmente, estava já circuncidado. Os homens do oriente, chegaram com sua comitiva, muita gente. Honraram a Jesus com presentes e depois de terem êxito, naquilo que saíram para saber e ver, deviam voltar para seus pontos de partida. Estes eram homens de sabedoria, pessoas nobres, de escolas antigas  de conhecimentos, não tencionavam o mal para ninguém. Isto foi contado, pela revelação que tiveram. Foi-lhes esclarecido onde tinham entrado e ordenado que não retornassem a Herodes. Não deveriam revelar onde estava a criança. Deveriam sair de Israel por outros caminhos. Assim fizeram.

Os "reis magos" não voltaram a Herodes. Este inquietou-se sobremaneira e, vendo-se enganado, entendeu que era mesmo uma grande conspiração, que este tal rei: uma ameaça; tinha de ser eliminado. Ordenou a morte de crianças, nascidas em Belém, em certo espaço de tempo. Conforme o relato  de Mateus, ocorreu a morte de muitas crianças, na tentativa cruel de eliminar também o filho de Maria, Jesus o filho de Deus.Foi um grande holocausto, muito sangue infantil, inocente, derramado. No entanto, Jesus já estava longe. José  foi avisado para tirar a mãe e a criança de Israel, antes que a decisão louca de Herodes fosse operacionalizada.  Mas, para os peritos nas Escrituras Sagradas, Jeremias havia predito o infanticídio, quando disse: "Assim diz o Senhor: "Ouve-se uma voz em Ramá, lamentação e amargo choro;é Raquel, que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque os seus filhos já não existem" (Jeremias, 31:15,16).

Em Belém, nasceu um rei. Jesus nasceu em Belém .....   

* Maria das Graças  Pereira Nunes Oliveira. Livre Pesquisadora de Religiões. Estudiosa da Bíblia, da Educação Infantil, da Ludopedagogia, da Sexualidade X Gênero nas Novas Sociedades. Professora de Ciências Naturais. Especialista em Metodologia do Ensino Superior.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

 Eu não sei até agora, o que realmente acontece. Mas, tenho testemunhado noticiário de mortes no país, muitas mortes. Existe uma doença.Esta doença mata. Isto nós todos sabemos. Rapidamente uma vacina foi concretizada. A explicação para esta produção pode ser a de que, estudos sobre a SARS vêm sendo realizados, na China, faz tempo. Mas, afirmava-se saber muito pouco sobre o vírus até poucos meses atrás. Um ente muito letal. Agora, doze meses após o estouro da doença já se sabe o suficiente para a produção de um antídoto eficaz e foi evidente, segundo a mídia que houve a corrida dos laboratórios , para a produção e venda. O que se passa? Precisamos acreditar na Ciência e a Ciência precisa se posicionar publicamente sobre o que está apresentando. Diante de tudo que está acontecendo médicos e cientistas silenciaram. Só a mídia fala. 

O povo debate-se. Aqui no Brasil, existe um investimento da parte da esquerda política contra o presidente. Não se age de forma inteligente de dialogar e ajudar. Somente puxar o tapete, para tomar o poder. Eu penso que neste momento, ajudar na governança seria a coisa mais acertada. O presidente Jair Bolsonaro acredita em armas e  talvez, chegue a um ponto em que elas sejam muito válidas. A ignorância reina. Se não há um diálogo salutar é possível haver um conflito maior e desenvolver uma miséria maior.Não há paz entre as pessoas. Existe a expectativa natalina anual. O Natal  não é uma festa ruim, mesmo sendo uma época de consumo, as pessoas ficam mais dispostas a fazer o bem. Ficam mais dadas. Certamente, que há muita criança com fome. Muita criança desejando chocolate e muitos doces e presentes, criança gosta disto. Já fui criança e lembro que eu me alegrava muito nesta época, por causa dos doces e presentes.  Naquele tempo que se inventou o acrílico opaco, que se colore, até hoje, ganhei uma máquina de costura  de brinquedo era toda colorida, amarela, azul real e laranja, e fazia todos os movimentos, girando uma alavanca. 

A forma como este presente chegou até mim, foi muito interessante e  eu nunca esqueci. Meu pai e meu tio haviam saído, acho que papai já estava casado e devia estar na sua casa com sua esposa. Titio saia com seus amigos jovens de sua idade acima dos dezoito anos, sei disto hoje, porque calculei a idade dele, no início dos anos sessenta.  Fiquei em casa como sempre com minha avó. Vovó era católica praticante e não lembro se desta vez fomos a missa do galo. Se, isto aconteceu, já tínhamos retornado da igreja. Eu gostava de chegar em nossa casinha, tão arrumadinha e sossegada, meu reino. nessas ocasiões para comer. Estávamos já deitadas, e não tínhamos pegado o sono, quando ouvi uma batida na janela da frente. Nos assustamos. Era tarde, normalmente ninguém chegava lá em casa aquela hora, mesmo sendo  noite de Natal.

Quem poderia ser?  Vovó saiu devagar da cama e pediu  com sinal de psiu mudo, que eu ficasse calada.. Fomos silenciosamente, para a sala e espiei pela greta da janela. Havia algo entre a janela e a tábua de privacidade.Aquela tábua externa, que fecha a metade das janelas, algo muito antigo, que evitava entrar com facilidade pela janela. Não se usava grades nas portas e nas janelas. Dificultava que as crianças sentassem na janela e caíssem lá fora. Eu disse, baixinho:tem uma coisa ai. Vovó abriu um pouco a janela e viu, abriu mais e o embrulho quase caia, eu o peguei. Um presente! Para mim! Lembro da expressão de vovó. "Você não sabe quem botou ai".  Encostei-me  na cadeira e comecei a abrir. Fiquei emocionada e sorria muito, falava alto e sorria. Não me continha em alegria. Uma máquina de costura, tão lindinha. Amei aquilo, foi o meu presente.Eu não ganhava presentes todo natal. Não ligava para isto. 

Contudo saber da possibilidade me alegrava. Qual a criança que não gosta de ganhar coisas; ainda mais quando todo mundo ganha  e, ela vê? Não era o meu caso, eu não via ninguém ganhando nada. Morava em um arrabalde, vizinhos distantes.Meus primos haviam deixado a casa de vovó com seus pais, quando eu era bem pequena. A única criança que eu conhecia, de perto, além deles, era Dulcinéia, uma menina que vinha brincar comigo, algumas vezes por semana. Ela trazia seus brinquedos de acrílico, muitos eram rosa. Meus brinquedos eram todos criados por vovó....Mas, quem teria colocado o presente? Eu achava que tinha sido Lina, a irmã de Lázaro.Ambos eram amigos de titio e de papai e haviam estado lá em casa para pegar titio para sair....Mas, ela não me disse nada. Apenas disse que a máquina era para eu aprender a costurar e ser costureira... Mas, parece que não havia sido ela.

Intrigante é que a batida forte na janela, não pareceu de uma mão feminina e não ouvimos rumor de gente se afastando. Teria sido papai Noel? Teria sido papai? Talvez tenha sido papai. Mas, ele nunca me disse nada e quando eu lhe disse, "é para eu aprender a costurar e ser costureira!" ele, com seu sorriso maroto disse,  não. É bom que você aprenda  a costurar; mas não para viver de costura..... Então a maquininha de acrílico era apenas para eu brincar. Eu era uma criança que desmanchava tudo, quebrava. A imaginação e curiosidade eram férteis demais, para  ficar com algo inteiro por muito tempo. Começava olhando muito, depois especulando e ..logo estava tudo desarticulado e eu tentando refazer em vão. As vezes, vovó ou titio refaziam com sucesso. Muitas, os danos eram irreversíveis e eu mesma dizia. Chega! Não quero mais. Não conseguia manter uma coisa inteira, por muito tempo. Parece que eu era uma garotinha normal. Risos. 

Sempre lembro daquela noite. Eu fiquei muito ansiosa com meu presente. Mas, vovó disse que era  para voltar para cama. De manhã eu costuraria à vontade. Demorei para dormir, não conseguia. Havia algo novo, diferente da energia de minha existência, em casa.Qualquer coisa que chegava, em casa, me transtornava sobremaneira, muito mais , quando eram pessoas, para dormir. Eu não conseguia mais dormir. Hoje eu entendo melhor o que se passava. Naquele tempo eu não sabia e chorava muito. Talvez vovó soubesse. Ficava comigo no colo, para que dormisse e isto era custoso. Eu dormia com ela, mas não dormia de fato e passava a noite toda em alto movimento e agonia.Havia sempre um chazinho quente de capim limão ou melissa, do canteirinho de ervas de vovó. No dia seguinte, passava e eu dormia dobrado. O convívio com a visita só acontecia depois de uns dois dias, quando eu me  acalmava. Graças a Deus, tudo isto é passado. Mas, foi um processo doloroso, acabou na adolescência.

Mas, a maquininha de acrílico foi uma novidade e eu nunca soube quem me presentou. De onde tinha vindo. Mas, hoje eu agradeço, seja ou tenha sido lá, quem fez isto.Alegrou-me sobremaneira. Mas, meus natais eram bem calmos. Só mesmo a ideia de menino Jesus na manjedoura, era suficiente. O presente era ele. Lá em casa tinha um bonequinho de cerâmica, muito pequeno esbranquiçado em uma pequenina manjedoura, sobre umas palhinhas.A representação de menino Jesus. Achava lindo. Mais não podia pegar. Não deveria ser quebrado, era sagrado. Algo tão minúsculo, acendia minha curiosidade. Eu tinha muito interesse naquela pecinha. Havia também uma ovelhinha. Não lembro se tinha mais coisas, inclusive uma caixinha de fósforo com algo muito pessoal meu, algo cadavérico, seco e escuro enrolado em um algodão, nos pés de Maria, a mãe de Jesus, representada como Senhora da Concepção. Nunca me disseram por que. Fico deduzindo. Ficava tudo dentro de um pequeno oratório, um nicho de madeira verde, com lados de vidro. Vovó trazia tudo arrumadinho lá dentro. Era como se fosse uma igrejinha. Tinha uma cruzinha,  no telhado...

Eu tinha enorme curiosidade com aquele relicário de vovó. Inalcançável, para mim. Ficava sobre uma prateleira de madeira, muito boa, com cantoneira de ferro algo muito trabalhado. Mesmo que eu subisse em uma cadeira, não dava. Vovó fazia a limpeza de uma forma secreta, que eu não via. Ela precisava de paz, para manter a integridade de suas coisas, quando era necessário limpar. No natal, o bebê Jesus ficava na parte da frente do nicho.Ele ficava em evidência. Depois que eu cresci mais um pouco, consegui ver o que continha aquela casinha, porque pude colocar uma cadeira e ver o que tinha lá dentro. Mas, não fui mais ver, eu já lia a bíblia e havia aprendido que não era certo, desobedecer os pais.Então se vovó ocultava de mim, eu não deveria querer ver. E depois entendi que eram ídolos e Deus não gostava de adoração de imagens.Mas, respeitava a fé de vovó, a princípio eu seguia a fé dela , na igreja Católica, mesmo estudando a bíblia com pessoas de outra denominação. Foi com vovó  que aprendi ter fé em  Deus.Ela acreditava no mesmo Deus, de outra forma.

Graça Pereira Nunes.

張韶涵 Angela Zhang - I started a joke (官方版MV)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

 

Precisamos prestar muita atenção na informação que está disposta e precisamos ver as possibilidades que temos, antes de exigir outra situação diferente. Precisamos ter cuidado em não sermos ingênuos ou levianos. Eu defendi o isolamento desde o começo da pandemia, porque acredito, que é uma medida sanitária positiva no limite para qualquer pandemia e, principalmente uma como a que estamos vivendo. Enquanto o presidente, Sr. Jair Bolsonaro defendia a vida na rua, o trabalho, idas a escola, eu e muitas pessoas estávamos a solicitar o isolamento. Sendo assim, eu não posso ser tão descarada ao ponto de alarmar o atraso dos estudantes da Escola Pública, o prejuízo da Educação e fazer comparações com os países que começaram as aulas no processo. Tampouco achar que não deveríamos ter problemas inflacionários. A pandemia presente abalou o mundo todo e causou impacto econômico social em diversos territórios planetários.
Graça Nunes.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Imaginação.

 Além da palavra, a imagem. Estas coisas foram fundamentais na minha formação. Na minha infância, no seu começo, vivendo em um lugar muito remoto e de um ramo familiar materialmente pobre, na minha casa não tinha rádio, nem TV. Tinha a página impressa, livros jornais e revistas compradas no Centro da cidade, por quem ia lá. Havia calendários, folinhas na parede, com a foto da Marylin,Monroe, ainda menina, eu não sabia quem era até chegar uma notícia desagradável e comovente.  Hoje sou leviana para leituras e escrevo sem cuidados. Não devo nada a ninguém. Mas, comecei a ler cedo, fui alfabetizada em casa. A imaginação foi muito estimulada, porque não podia ser diferente. Como eu ia longe. O canteirinho de vovó era um bosque. O resto do terreno era bosque e bosques depois morava tantas pessoinhas no bosque que com mais imaginação tornou-se povoados, cidades. Minha geração imaginava muito. A criatividade tinha muito espaço. Desnecessário dizer que aumentou com a chegada do rádio.....Graça Nunes.

Imagem de Pinterest.

 

sábado, 5 de dezembro de 2020

Viver.

 

O que deve te alimentar é a vida.
As vezes, eu sinto algo muito duro de seu íntimo e, não é nada físico.
Algo de sentimento.
Como uma dor muito grande, ancorada no teu ser.
Tua couraça é muito dura e pesada.
Você tem muitas escoras.

Não deixe que isto te domine. 
Viver é muito mais que certas coisas. É muito as bobagens da vida, o inusitado, as surpresas, as coisas pequenas.
As pequenas coisas. Aquelas, que as pessoas não olham; que muitos acham  se importar,  vergonhoso. Viver é sentir o outro, é ser empático com aquele, que não  tem nada a oferecer.
Olhar para baixo, quando  está por cima.
Não está nos livros. Se descobre no dia a dia, na Natureza, olhando uma florzinha, no cantinho. Coisa delicada e linda. Vivendo.

Viver é uma delicadeza de si, para si e depois, para os outros.

Graça Nunes.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Ninrod, frustrado...

 

De Ararat saiu a civilização pós diluviana, conforme o relato bíblico. Logo, surge descendente de Cã, por Canaã, Ninrod, uma pessoa poderosa, um globalizador, para o mundo de seu tempo. Ninrod se sobressai e é falado até hoje. A galera do domínio em atividade. Ninrod quer mesmo dominar o mundo todo e, na planície da Lua, inicia um mega projeto de construir uma torre, que vá tocar os céus. Quem deu esta grandiosa ideia a Ninrod? Não há referências. Infelizmente, este grande e aparentemente realizável projeto, parece que foi impedido e o resultado foi uma grande confusão....Dizem que foi tudo combinado, para parar o projeto de Ninrod que era muito "fora da caixa" e, ai, "entrou água" na torre de Ninrod, na planície de Sin, foi tudo por água abaixo, e ninguém mais se entendeu; formaram-se grandes grupos humanos, unidos  pelo idioma, pessoas que falavam a mesma língua,cada grupo saiu para onde achou melhor.... Muito interessante, não é? Risos.
Gênesis, capítulo 10.
Graça Pereira Nunes.
https://www.apologeta.com.br/wp-content/uploads/2018/01/mascara-sargao.jpg?fbclid=IwAR1iszM3stTscbP9E771iHT5HhP28EACGHc0XwXfX7LIvgpDDDUMdHpy2AkImagem:https://www.apologeta.com.br/wp-content/uploads/2018/01/mascara-sargao.jpg?fbclid=IwAR1iszM3stTscbP9E771iHT5HhP28EACGHc0XwXfX7LIvgpDDDUMdHpy2Ak

domingo, 22 de novembro de 2020

 O dia da consciência negra é um feriado, celebrado na forma que é, apenas no Brasil. Em certos lugares pelo mundo, o que se considera, em um período maior, são eventos sobre a História da África. E, por falar nisto, o Brasil, um país, que recebeu muitas pessoas africanas,  deportadas de suas localidades e exiladas nas plantações de cana-de-açúcar, do Brasil e outras que vieram, quando todos seus bens e imóveis ficaram para trás, para outrem, naquela operação articulada, que iniciou o maior negócio de tráfico de pessoas neste mundo, o Brasil, este país não sabe nada de África, nem da verdadeira origem dessas nações de pessoas que participaram da construção do país e, que por trabalho árduo, conquistaram direito a este chão´. Isto não pode ser esquecido;antes, deve ser considerado. 

Graça Nunes.

 

Para combater o que chamamos de "racismo", precisamos falar sim, do assunto. Necessário falar o que pode ajudar a formar uma nova consciência, uma doutrina contrária, que vá desestruturando os alicerces da velha doutrina, construida como estratégia de dominação, que é perdurante em vários lugares do mundo e muito mais, onde pessoas de pele escura foram escravizadas por um tempo considerável, como é o caso do nosso Brasil.
Graça Nunes.

 

......... necessário também combater a escravidão de pessoas que é presente no mundo, ainda, neste século de forma gritante. Despertar a consciência de igualdade e pertencimento a um grupo biológico racional no mundo, a ideia de que somos todos homo sapiens e que precisamos das mesmas coisas para viver, etc, é ponto de geração da mudança. Isto é bem diferente de certas falas que são no fundo ainda bastante preconceituosas e não mudam nada. Assanham, provocam desespero, revoltas e assassinatos. Depois, tudo volta ao ponto zero.
Graça Nunes.

Processo de mudança.

 

Incrementar a Educação de qualidade, para todos, parece ser uma ação muito eficiente, no processo de mudança, que não se verá a curto prazo. Mas, será visível depois de um trabalho com muita boa vontade. Vamos, cada um fazer a parte que lhe é possível; não é impossível. Mas, é um processo lento. Trata-se de mudar um costume de pensamento de séculos.... Enquanto isto, vamos continuar denunciando atos relacionados a doutrina "racista".
Graça Nunes.

Não existem raças humanas.

 

Raças humanas não existem. É possível hoje falar em raças de viventes, diante de tanto conhecimento em relação a possibilidade de haver outro tipo, diverso da humanidade, no Universo. Mas, entre os humanos ainda não se encontrou, um grupo humano com genoma que extrapole o percentual da variante genética, que torna esta possibilidade zero. Estamos diante de um problema muito grave no planeta além de uma pandemia, causada por uma partícula, que não tem preconceitos.
Graça Nunes.

Contrariando

 

Racismo é algo que revela grande ignorância sobre o que é a espécie humana.Quando se fala em marginalidade e número de negros, nas prisões; o assunto é tratado de uma forma controversa, determinista e não se olha a desigualdade social, que joga as pessoas pobres na situação sem saída e como, por questões históricas, a maioria de poucos recursos tem a pele mais escura, será este número representado nos cárceres e, antes deles na marginalidade.Eduque bem todos os jovens e eles e elas provavelmente farão boas escolhas, com poucas exceções.

Gosto mais.

 

Gosto mais de falar sobre o trabalho como algo que enobrece todas as pessoas, independente dos diversos tons de pele, da consciência de pertencer a espécie humana, de que a humanidade é muito muito diversa, de que ainda existem pessoas sendo escravizadas e que estão vivendo assim, para não morrer de fome , que seria interessante que todos soubessem da a Antropologia da Escravidão e das Invenções e Reinvenções da África no Brasil, que todos somos irmãos. Gostaria que tivesse o dia da Humanidade e o dia da Irmandade Internacional o Dia da Consciência de pertencer ao Planeta Terra.

Descarga

 

Precisamos deixar a radicalidade de lado.Se não existem raças na humanidade, racismo é uma falácia. Algo controverso, para ficar melhor. Algo para atrapalhar. Embarcamos nesse negócio. E, ainda mais, resultado de ignorância. Para ir ao ponto: a quem serve isto? Porque para nós, pessoas de pele escura, tá claro que não tem servido, embora insistamos em bater, o tempo todo nesta tecla de "negro" e de "branco", apontando a ponta da faca para o nosso próprio peito. Tem gente zombando de tudo isto. Coisa velha e doutrinada, que temos potencializado, cada dia. Aumentando a força de quem quer que nos entendamos como "negros", com toda a representação social desta instituição, sem direitos e não como pessoas. Somos pessoas. Somos humanos. Pertencemos ao planeta Terra, pertencemos a família humana. Isto é o que tá valendo. O resto: a descarga!

 

Oremos.
Nosso Pai querido, que está no céu. Santificado seja o teu Nome. Venha a nós o teu domínio. Que tua vontade seja feita na Terra, como acontece no céu. Tua vontade é sempre boa. Que o alimento não nos falte, neste e nos outros dias. Perdoa nossos desacertos, nossos pecados, o que devemos. Nós perdoaremos aos que nos devem e desacertam conosco. Livrai-nos de laços e ciladas da mentira, da oposição, para que não fiquemos contra ti e nos despedacemos, como que por um descuido a beira das Falésias de Moher. Guardai-nos, até o fim. Amém. Beijos.
Graça Pereira Nunes.
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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Sobre nossa default

 

Nós que já vencemos boa parte do caminho, temos nos aproximado da ponto de chegada.A morte está bem diante de nós. Muito mais agora. Existe muita força para que creiamos que a morte não existe, de fato. Mas, morte é fim. Mas, more o que nasce.Temos algo que é perene, mesmo sem a manifestação material. Tudo é cíclico. Deus fez tudo assim de forma sustentável. Por isto, Ele concluía, no final de cada Dia. "Bom" . Nós não sabemos exatamente o que somos, talvez nunca saibamos. Nossa essência é Divina. Somos essencialmente criaturas de Jeová. Todos nós. Tudo é essencialmente divino. Animais, plantas, a água, o ar, o fogo. Mas, concluindo: o corpo, a parte material é de elementos do ambiente imediato. Nosso corpo é terreno para relações terrenas. Tudo é coerente. Não prestamos atenção a nada. Esqueça o mundo dos homens. Procure saber de coisas divinas e seja feliz. Morra em Paz.
Graça Pereira Nunes

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

 A violência nas escolas está também de quarentena. Um assunto desagradável. Mas, é necessário tocar neste assunto, por ser muito sério e afetar diretamente o professor. Sei o que é e como entristece os professores e gestores das escolas. Vivenciei loucuras de estudantes em uma escola, onde trabalhava no turno noturno. Mas, naquele dia, foi muito inusitado para mim. Cheguei na escola e depois de um papo rápido com alguns colegas, fui para a sala e lá, todos estavam esperando e começamos a trabalhar. Eu havia produzido um material interessante pra leitura individual em um momento e depois uma conversa em grupos com apresentação de uma breve conclusão sobre o assunto pelo grupo. Sabia que não era legal delongar muito; precisava tornar a aula interessante para mim e para os estudantes. Eu já chegava depois de um dia de trabalho em outro lugar e não poderia ser  de qualquer jeito e muito menos cansativo. 

Sabia que seria legal. Na sala iniciamos o trabalho, depois de algumas cordialidades. Todos estavam ligados ao texto, quando a luz apagou.Alguém rapidamente fechou a porta. Eu fiquei parada, de pé. Foi só na escola a falta de energia, da sala eu podia ver os postes acesos, lá fora, na rua, passando o muro da escola. Lá fora estava  normal. Dentro da escola não. Iniciara-se uma gritaria infernal, baques e baques. O que estava acontecendo? Solicitei aos estudantes que permanecessem onde estavam. Ficamos em silêncio. Por um momento imaginei que invadissem a sala. Olhava para a porta. Fiquei imóvel todo o tempo. Eu não estava ali. Eu estava tranquila. Tudo parecia tão distante. Todo mundo parado, petrificado como eu, naquele espaço. Tudo se quebrava lá fora. Vieram e chutaram a porta da sala. Mas, não conseguiram abrir. Eu nunca tinha ouvido um barulho daquele, nem visto tamanho desespero... Mas, mesmo assim, eu estava muito calma, me sentia segura....Os estudantes da sala onde eu estava, estavam quietos. A situação durou um tempo. Depois, foi diminuindo e por fim o silencio. Sentei-me.

Demoramos um pouco na situação e saímos quando a porta da sala se abriu ao mesmo tempo que luz acendeu e eu vi o diretor da escola, parado na porta e admirado." Aqui tudo bem". Sim, tudo bem. O que houve nesta escola? Levantei-me  e fui ver lá no corredor. Que cena! Parecia que tinha passado um furacão, muita madeira espalhada. Portas arrancadas. Cadernos e livros desarrumados pelo chão.As mesas e carteiras estavam destroçadas. Destruíram os móveis escolares.A cena era repugnante. Eu olhei para o rosto sombrio do diretor e disse-lhe: "Você precisará saber quem organizou esta desordem, para tomar providências diretas ou toda escola será penalizada". Ele, uma pessoa ponderada, respondeu vou  providenciar isto, quero dizer que vou tentar ver quem fez e tomar providências". Encerramos o turno. Voltei para casa pensando o que poderíamos fazer para que a situação não se repetisse. Meu Deus!!!!

Eu trabalhava apenas dois dias, semanalmente, à noite, naquela escola.  No próximo dia, a escola estava toda organizada, as carteiras, mesas e portas consertadas, tudo no lugar . Fiquei admirada e elogiei a administração da escola por isto. Claro que na escola havia relações internas e externas que eu não tinha conhecimento e também não me interessava, até que não interferisse na dinâmica e valores do estabelecimento. Notei que a portaria estava mais rigorosa e ativa com a entrada e saída dos estudantes. Tudo ficou do jeito, que tinha que ficar, por um bom tempo. Mas, não se identificou os cabeças do levante em vandalismo. Eu não procurei mais tocar neste assunto. Era da pauta da diretoria. Poderia falar, se eles me  falassem sobre. Me desliguei. O tempo corria.

Certo dia a professora de Português, precisava apresentar um vídeo e queria reunir todas as suas turmas em uma aula só, em um horário bom, uma sala boa um horário favorável.Propôs-me trocar dia e horário. Concordei. Tive que mudar tudo, para trabalhar um dia em seu horário e deixar o meu livre para ela. Tudo foi feito como ela precisava. O dia, que ela precisava,  era uma sexta-feira, no horário, sala e turma que eu usava. Eu não fui na escola, naquela sexta. Tudo foi modificado. Passou o final da semana e na terça, eu fui para a escola. Já de longe estranhei a falta de movimento. Nenhum estudante. Ninguém da escola na rua. Estranho. Cheguei na escola. Silêncio e escuridão. " Não está funcionando, hoje?" O porteiro disse: "A direção tá ai e duas professoras". Posso entrar no prédio? Eu já estava dentro, mas, na parte externa. O portão de ferro principal estava com cadeados. Foi aberto e eu entrei. 

Na direção, o ambiente era de consternação e no corredor, havia um montão de carteiras quebradas.  "Novamente?!!!". Exclamei. E acrescentei que "desta forma já era um caso para ser levado a Secretaria Estadual de Educação com aviso de que seria levado a nível judiciário. Os estudantes do turno noturno eram todos maiores de idade, deveria haver uma investigação, para descobrir a causa, quem fez, para assumir a responsabilidade. Isto já se configurava um caso de vandalismo reincidente, não poderia haver uma terceira vez". Algo me causou espanto: a vice-diretora disse que não era caso de polícia não; que pensar assim era infantil. Eu senti cada palavra, pensei em responder-lhe a altura mas, não costumava dar-me ao trabalho de começar um debate com alguém  que pensava como ela. A escola era pública e estava sendo atacada daquela forma e ela achava que não era caso de polícia. Desta forma eu não poderia continuar conversando com ela. Achei-a indigna.

Achei-a mais indigna ainda, depois que soube, que acontecera tudo como da outra vez e muito mais; a professora que estava  na minha sala, a professora de Português que trocara de horário comigo estava no hospital. Recebera muitas cadeiradas no escuro, fora machucada. Imediatamente me imaginei no lugar da colega, que era idosa(nesta época eu era bem jovem). A escola estava toda destruída, uma professora no hospital e não era caso de polícia? Isto era algo intolerável, para mim e eu passei a desconfiar da vice-diretora. A escola foi refeita. Móveis escolares, quadro de giz, portas . Desentulho dos corredores. Voltou a funcionar. Iniciamos um trabalho contra ações de vandalismo dentro da escola. Foi um evento que durou uma semana e cada professor faria o trabalho, durante o seu horário de aula e depois faríamos um encontro conjunto e tal....  Certa vez, ouvi um aluno conversando com outro sobre a possibilidade de ter chamado e chamar a polícia, nestes acontecimentos. Quando eles me consultaram.Eu lhes disse, que também achava uma possibilidade, uma vez que havia reincidência e suspeita de infiltrações de vândalos da comunidade imediata, para operar desta forma e outras histórias; mas, que isto não  era aconselhado pela direção, isto era inaceitável para a diretoria da escola, mesmo com  uma vítima.

A professora melhorou. Voltou para as suas atividades e depois, no final do ano, mudou de escola. Descobri na caderneta um bom número de evadidos naquele ano.Apenas se matricularam. Depois da semana  de considerações contra o vandalismo na escola, reforço e empoderamento da portaria, proteção dos disjuntores, as coisas tomaram um rumo de esperança. Mas, ainda havia muitas expectativas.No final do último semestre, daquele ano, eu conclui tudo. Recuperei estudantes, poucos com atividades e por avaliações do acompanhamento anual. Não reprovei ninguém. Adoeci e encerrei meu contrato naquele estabelecimento. Anos depois encontrei o diretor, já estava aposentado. Conversamos cordialmente. Enquanto ele falava, eu lembrava de sua luta  naquela gestão....

Cavaleiros do Apocalipse.




 No livro bíblico de Apocalipse,  há referência a quatro cavalos com quatro cavaleiros. Apocalipse fala de doenças e mortes, no final do ciclo. Refere-se ao cavalo descorado, montaria da morte e seguido pela sepultura. Diz que a morte tem autoridade para matar (Apocalipse 6). Este não é o único cavalo. São quatro. Cavalo simboliza velocidade e força. Cavalo é veículo. Um veículo muito usado nos dias de Amós, o profeta e de João, o Evangelista, a quem se atribui a escrita de Apocalipse. Os quatro cavaleiros do Apocalipse (da Revelação) tem, cada um, o seu cavaleiro. Muito simbólica esta passagem que, se encaixa também, nestes dias de pandemia mundial..Acredito que teve lugar em todas a s situações de doenças neste mundo. Hoje se conhece mais e se veicula mais informações. Isto é muito importante. Necessário que se conheça todas as coisas e se apegue ao que é excelente.Saber que o planeta terá um fim de ciclo é muito importante.

Saber que durante muito tempo estamos aqui no planeta, fazendo muitas coisas com consequências boas e ruins, isto também é importante. Embora muita gente não queira acreditar e não queira nem saber, o Apocalipse revela um processo.Sendo desta forma, revela um conjunto de etapas que se interligam e continuam até fechar todo o seguimento.Então, aumenta  o desequilíbrio ecológico de diversas áreas, no planeta Terra;  há doenças, fome  e assim, reunindo tudo, vai formando o colapso. O homem poderia evitar isto. Mas, parece não poder, porque tudo que há, envolve a humanidade como corrente de elos difíceis de partir, grossos e fortes elos, que a arrasta para um buraco fundo. Mas, aparentemente, nem todos da humanidade estão acorrentados ao sistema desta forma. Na própria ação dos cavaleiros, apresentados neste livro que faz parte da Bíblia, há um limite, que indica não envolver a totalidade.

No caso do cavalo descorado, o cavalo, cujo cavaleiro é  a morte, ele tem licença para matar e matar. Mas, não todo mundo; só a quarta parte de diferentes maneiras: falta de comida, doenças e feras da terra(selvageria e ataques de animais). Os indivíduos estarão nos lugares onde haverá possibilidade para isto. Estarão onde possam ser apanhados. Em outro livro, o livro do profeta Amós, nos capítulo  8 e 9, referindo-se a subida e a descida da Terra;  mas, localizando a situação  em Israel. Conforme a narrativa,  na leitura é possível entender,  que não será fácil escapar da situação, como alguns pensam e há planejamento de escape. As coisas que virão só serão evitadas se o Altíssimo quiser e estamos navegando em direção a elas todas e vamo-nos encontrar com elas, em total fragilidade. Passamos todo o tempo sem avaliar de verdade o nosso passado, como espécie; sem  conhecer melhor o planeta. 

Passamos,  a maior parte de nosso tempo, inviabilizando as condições de vida, para nós mesmos, em iniquidade. Agora o que restou de nosso ambiente é o que temos e estamos subindo com o que remanesceu e será nele que estaremos quando começarmos a descer. Alguém avisou a Noé que choveria e ele mesmo sentiu, em seu âmago, que muita água estava para cair sobre a terra. Noé foi avisado porque estava em condições, para um trabalho, construir um meio da sobrevivência. A informação que temos é que Deus avisou a Noé. Ele provavelmente, da sua parte guardava informações obtidas em sua própria família. A água que subia, poderia descer. Cedo ou tarde.Vivendo ligado ao comportamento da Natureza, foi um aspecto que lhe permitiu pensar em mudanças possíveis. Naqueles seus dias, não havia as possibilidades de hoje. Ele nem imaginava. Tampouco preveria, que as pessoas continuassem as mesmas em pensamentos e ações e que estariam desprevenidas para as instabilidades. Apesar de tanto conhecimento...

Maria das Graças Pereira Nunes Oliveira.


sábado, 3 de outubro de 2020

Voudizer.

 O cachorro de D. Dudu, nossa vizinha, chamava-se Voudizer. Um cão de estatura média para pequena, cheio de jinga e muito observador.Todos os dias estava na porta de nossa cozinha na hora do almoço.Ano após ano de sua vida de cachorro. Fiel companheiro de sua dona que se embriagava diariamente e o atacava com seus dissabores. Nesses momentos, Voudizer  se safava e levava na brincadeira, sempre sorrindo e fugia dela quando a coisa ficava séria.Depois retornava. Com ela, ele tinha abrigo e já aprendera, que o efeito do álcool era passageiro. Nos acostumamos tanto com a presença do cachorro, no horário certo, que quando ele, por algum motivo,  não aparecia, procurávamos e lá estava ele, vindo ou deitado debaixo do pé  de araçá. Isto acontecia muito no verão, nos dias muito quentes, quando o sol era incisivo no quintalzinho.Anos se passaram e  Voudizer ficou muito velhinho, seu negro pelo ganhara luzes e um de seus olhinhos parecia ter mudado de brilho.Andava devagar. Depois de um tempo, não veio mais. Morrera.

Maria das Graças Pereira Nunes.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Só Tetê - Tetê Espíndola, 1994

Sou de Salvador, da Bahia

 Eu nasci em Salvador mesmo, enquanto meu avô ainda era vivo, na casa de minha avó, em um arrabalde, na lateral de um vale raso, em forma de ferradura, que na época, já era a remanescência da roça de minha tia avó, irmã de vovó; Alice Pereira e logo se tornou um loteamento, tendo como rua principal um trecho bem longo da Rua Freitas Henrique de cima.Mas, na verdade tia Alice  nunca fora dona. Ela era posseira. Todos aqueles trrenos pertenciam e eu acho que ainda pertencem a Sociedade Eunice Weaver. Quando o Sr.Augusto Maia passou a ser procurador de titia,indicado por seu filho Antonio Lourenço(o Tonoca), foi regularizar a documentação e se deparou com esta situação. E vovó começou a pagar mensalmente, a esta sociedade, uma taxa e não sei em que ficou.Era necessário que ela fizesse isto para receber a Escritura e documentos de posse....Algo muito complicado para mim naquele tempo. Os limites era a rua Freitas Henrique de cima, a roça do Sr. Dominguinhos Cajazeiras, a oeste, a Leste e sudeste as terras do Asilo São Cristovão dos Lázaros, Baixa de Quintas, as terras dos Freitas(a família de Acelino Freitas, Popó)..Hoje tá tudo cheio de casa por lá . Feio. Até mesmo o verde exuberante da roça de Dominguinhos, já subiu na fumaça. Tem uma igreja, cristã, enorme no lugar. A chácara de Zeca Leite, junto a Escola Parque, até pouco tempo, só tinha a casa, com sua varanda acolhedora, que ficava na rua Principal do bairro Caixa D' Agua, aqui em SSA. Morei em três casas neste bairro, dezoito anos na casa de vovó, com ela. Depois morei alguns meses em casa de titio  e sua família, enquanto vovó estava em casa de papai, para um reforma breve no telhado da casa.Retornei com vovó para nossa casa. Titio mudara-se de casa e quando vovó adoeceu e depois que ela morreu morei em nessa outra casa dele, para concluir o nível médio.Gosto de lembrar de minhas iniciais.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

 Sempre volto a Gênesis porque agora compreendo melhor. Os escritos do livro de Gênesis são vários. São compilações reunidas que nos dão muitas pistas. A parte que o homem desobedece a Deus e antes disto. Que história, a maioria das pessoas leem e não veem algo tão claro e tão interessante

domingo, 23 de agosto de 2020

Pessoa - Marina Lima

Mosca na sopa

 Não gostamos de falar de morte, nem de baratas, ratos, cocô, mijo, mosca. Onde, que isto é coisa estranha a vida de todos nós? Qual o problema? Tinha um colega na escola fundamental, o Sidney. Uma pessoa extremamente versátil; digo isto hoje. Quando o conhecia, não sabia que adjetivo usar,ele era considerado desajustado pela nossa escola, ainda muito repressora, nos anos setenta, do século passado. Havia no currículo escolar da época, o que era chamado de Atividades Livres. Mas, recebíamos notas e tínhamos de ter frequência. Ditas "Livres", porque era da nossa escolha.Eram obrigatórias, para a integralização curricular. Podíamos escolher uma ou duas em cada semestre. Fiz quase todas:Educação para o Lar, Artes Industriais, Técnicas Comerciais, Teatro, Dança, Música e havia também filmagem, se não estou enganada, ligada ao jornal... Não lembro direito agora....Lembro que um acontecimento causou grande impressão em mim por causa do horror que se tem de certos insetos e coisas que naõ se gosta de falar.

Estávamos em Educação para o Lar. A sala de aula era uma casinha. Saleta, cozinha completa, quarto, berço. Interessante; não tinha cama. A professora muito compenetrada falava de tudo, que era óbvio para mim, aqueles assuntos eram do meu conhecimento, acho que de todos nós, por mais pobres que fôssemos, sabíamos o que fazer em uma casa, mesmo que de costume não fizéssemos. As aulas decorreram com Sidney sempre palpitando e sendo repreendido, ele não se importava. Poucas vezes era aplaudido. Havia algo contra ele. Talvez porque fosse escura a sua pele e seu cabelo se apresentasse em bagas, como se ele não penteasse,....seus olhos eram muito grande, com aquela expressão de que tinha o mundo todo dentro. Ele tinha outro mundo. Sua imaginação e inteligência eram excepcionais e , certamente que isto era um incômodo. Pessoas como ele, como nós, não podiam ser inteligentes , nem criativas, nunca deveríamos nos sobressair. Nunca teríamos razão, mesmo que tivéssemos.Entendo assim , agora....

 Mas, chegou a hora de praticarmos alguma coisa. Já havíamos estudado de forma breve a importância dos alimentos frutas e verduras fizemos uma vitamina de frutas, um frapê de todas as frutas possíveis, eu só pude levar laranjas, Sidney levou abacaxis e mangas . Esta prática terminou em paz , mesmo com as reações da professora e as investidas do Sidney . A professora reagia sem cabimentos com o Sidney. Hoje eu me pergunto qual seria o problema dela com o meu coleguinha. A coisa ganhou proporções amedrontadoras na prática da utilização das verduras. Fizemos uma sopa de verduras.Após o cozimento liquidificamos tudo e depois fervemos um pouco mais. Me comportava com muito cuidado nesta aula porque eu via a reação da professora com os outros colegas e não queria aborrecê-la, que fizesse da mesma forma comigo, de jeito nenhum... O clímax se deu quando a professora pediu que contássemos como foi todo o processo. Poderíamos escrever, desenhar ou dizer oralmente

Escrevi e desenhei o processo, como um croquis ; Sidney aplicava-se a um desenho. No final, a professora disse. O tempo de preparação acabou, como é que cada vai contar? Começaram as explanações. Chegou a minha vez, expliquei meus desenhos, outro e outro e chegou a vez de Sidney. A professora ficou paralisada. Seu semblante tinha algo estranho eu não conseguia definir e quando ela virou o papel para nós; lá estava a cena. Um menino que certamente era ele de perfil, o próprio autor do desenho, o Sidney debruçado sobre um prato de sopa e com linhas pontilhadas, partindo de seu olho, bem arregalado e terminando dentro do prato no líquido, a sopa em uma mosca bem nítida, sobre a sopa. Achei o desenho muito interessante! A professora vociferava. Isto aconteceu aqui?  Não havia acontecido. Não vimos nada daquilo. Invenção de Sidney eu disse, acrescentei uma brincadeira dele! A professora muito zangada virou-se parra mim e disse: isto é muito sério, por ser falso. Não ocorreu aqui! Eu solicitei que se relatasse da forma que quisesse o que se passou aqui. 

De certa forma ela estava muito certa, eu entendia. Mas, eu achava que aquela raiva toda era um exagero. Foi um horror. Vi o medo e a frustração no rosto lívido de Sidney. Notei que Sidney era muito estranho entre nós. De repente seu semblante passou a demonstrar uma grande dor e ele disse. Desculpe professora, por favor me desculpe .Eu pensei nisto. Eu pensei, não aconteceu aqui. Aqui não tem nem mosca, eu não vejo nenhuma. Minha ideia. A professora pediu que ele contasse oralmente as etapas do processo ocorridas naquela sala casa.... Ele relatou de uma forma bem humorada e as gargalhadas estancavam a cada sinal da professora. No final  a sua avaliação foi muito boa, não foi melhor por causa de todos os incidentes na aula... a professora era passional. A minha também não foi excelente. Foi boa. Ganhei um oito.Naquele tempo queríamos sempre boas notas, excelentes notas. Outro tempo. Havia medias a alcançar e, na maioria queríamos sempre estar por cima da média, o que nem sempre era possível por diversos fatores.

 O mais forte fator eram os professores e suas cargas. A professora não considerou meu portfólio dos encontros, naquela sala e que eu nunca havia criado contrariedade, que fazia tudo...Mas, eu só levara laranjas e abóbora para a prática dos alimentos, talvez isto a contrariasse, eu pensava assim  na época.Talvez, ela quisesse variedade de frutas e verduras. Na maioria, levamos o que tinha em casa. Fiquei com lembranças úteis, daquele curso e nunca poderia esquecer o Sidney. Um menino sempre limpo e esperto, criativo e fora da caixa, na nossa grandiosa escola. Estou pensando como estará ele agora. O que faz.Deve ter filhos e netos. Estará vivo?  

Graça Nunes.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Meus invernos.

 Comecei a prestar atenção nos dias chuvosos. Havia uma grande preocupação com a chuva, naquela época por causa da casa de minha avó, que era uma casa antiga e já estava vencida. Não havia dinheiro suficiente para uma obra. Sendo desta forma, vivi um inverno memorável.As paredes mais vulnerabilizadas da casa cederam.Elas caíram literalmente diante de meus olhos.  Vovó ficara assustada  e triste. Titio também. Ele ainda não trabalhava em uma boa empresa. Só papai trabalhava e já havia se casado novamente. Tudo era baseado na pensão de vovô que vovó recebia  e tinha também a minha pequenina e especial pessoa. Então eu não podia ficar exposta ao frio e bichos.Vovó e titio, fecharam a parede toda com o que puderam e ninguém via nada, da situação da parede, por que havia a casa de Sr. Deraldo, afastada da nossa, por um pouco mais de um metro.Mas, tomava-se pé da situação, quando se entrava. Toda a roça da irmã de vovó, fora loteada e quando Sr. Deraldo fez a medição de seus  lotes, do lado de nossa casa, houve um avanço para o fundo, afunilando o corredor da lateral da casa de vovó. Ela já morava primeiro. Mas, houve este avanço e, mesmo com a insistência de papai para resolver, vovó achou que a medida era tão pouca que isto não influenciaria muito na nossa propriedade e ele acomodou. Mas, ainda lembro dele querendo ir resolver, com uma picareta na mão, partindo para ir arrancar os marcos do lote vizinho. Uma agonia que me abalou. Eu era muito pequena. Lembro que chorava e gritava com a confusão dentro de casa. Não sei se esta foi a primeira que presenciei de papai...Depois eu vejo isto. Mas, quando chegou o inverno de 1963, eu já estava na escola. Minha professora, chamava-se Angelina.Eu ia com ela todas as manhãs. Um pouco depois das doze, eu retornava , com ela e via minha avó, que estava sempre na janela, de olho na estrada, me recebia como se eu chegasse de uma viagem distante. Estava me esperando para almoçar.Se fosse uma sexta-feira, comíamos peixe;  corvina de moqueca ou frito, com arroz e feijão e farofa. A farinha não poderia faltar, nem a banana. Havia muitas bananeiras na região. Mas, no inverno eu via muitas touceiras de bananeiras, do outro lado do vale desabarem,  uma atrás da outra,da forma, como hoje conhecemos, o efeito dominó. Algo impressioante. Mas, quando as chuvas passavam,lá estavam todas, de pé. As da casa de Tutucambe pareciam que eram inabaláveis. Tutucambe é uma história que acho que já contei. Mas, quero só falar de inverno agora. Depois de um tempo considerável, a casa foi refeita e ficou bonitinha, casa de pobre de roça.Cheia de carinho. Titio e vovó sempre cuidavam dela. Queriam preservá-la. Todo o trabalho de limpeza e higiene ficava com titio.Até mesmo as flores, para decoração. A tradição portuguesa era muito forte. Toda casa naquele lugar tinha  que ter jarrinho de flores sobre a mesa. Eu sempre gostei muito de flores, aprendi a gostar com meu pai, meu tio, minha avó. Pessoas muito doces.Tínhamos um pequeno jardim que durava de inverno a inferno.

Meus casaquinhos de lã de verdade estavam bem ajustadinhos. Mas, eram tão importantes para o inverno, me aqueciam tanto que eu nem ligava para o aperto.Eles iam comigo de inverno a inverno, aonde quer que eu fosse e poucas pessoas me chamavam para vê-lo de perto. Ficavam tão encantadas que eu gostava de saber que tinha algo, que era interessante para as pessoas. Porque eu não tinha muita coisa e era considerada uma garotinha feia, quando criança. Por que? Eu tinha a pele amarelada. Meus cabelos eram vermelhos e crespos. Muito cheios, davam trabalho para pentear e, como doía quando passava o pente, eu, muitas vezes, não deixava vovó pentear direito e vovó aceitava porque dizia: ela sente dor. Então eu ia penteada como era possível para os lugares. Era também  gordinha e barriguda. Eu era monstruosa. Uma criança esquisita. Não entrava nos padrões da época.Mas, lá em casa eu era a rainha e me achava muito interessante. Senti-me aceita e ser muito mimada, me dava muita segurança pessoal e autoridade. Eu não tinha vergonha de nada. Era espótica e locaz . Quando fui para a escola, a minha eloquência causou-me problemas.Uma menina como eu não podia falar muito e estar sempre dizendo o que acha.

A medida que fui crescendo fui descobrindo minha vida. No inverno de 1963, o frio era mesmo intenso e eu vivia  com um capote que não me cabia mais. Então, a esposa de papai deu-me um capote que era dela. Deu-me também uma sombrinha. Agora eu tinha um capote, bem maior.Uma capa. Tinha uma sombrinha grande. Aquele capote não me agradava.Aquela sombrinha enorme, eu gostava da cor amarelo ouro, cor do  nascente no verão e ouro bom das tarde verônicas. Bem, como eu era pobre, sentia frio, aquelas doações eram bênçãos.. Vovó dizia: seja grata. Eu não via nada para agradecer. Mas, agradecia e usava com gosto.Eu precisava. Fazia muito frio. O casaco me esquentava. Tava dentro do que era. O casaco de lã de verdade ,valia para a noite. Desconfortável! Mas eu sentia frio e precisava de usar algo mais limpo, para dormir. O outro andava na rua. Nas minhas corridas. Sempre me diziam para não correr. Não corra, não corra, não corra. Mas, correr era o que mais aquecia e eu parecia uma cabra, cabrita ou uma mula no campo da escola. Lá ninguém me impedia.Até a professora Angelina ver. Maria das Graças, cuidado para não cair, sua avó não quer que você caia. Eu estancava até ela voltar para onde estava e não me ver, para eu voltar a correr. Quando ela não estava olhando, eu voltava a correria, naquele chão barrento da escola ou me jogava no gramado molhado. Naquele ano, meu primeiro ano de escola, meu pai achara sem importância fazer minha farda. 

Eu ia para a escola como se fosse para um aniversário, com a capa  que minha madrasta mandara para mim por cima. Algo diferente inusitado. Gostaria de estar de farda, como as outras poucas meninas. Nem todos tinham farda no primeiro ano e nem todas as meninas tinham vestidos bonitos e fitas coloridas, somente eu. Tampouco uma capa de malha de lã, estranha como a minha. Isto afastava. Eu vivia só. Mas, tinha Manoel e Everaldo que corriam atrás de mim sem eu pedir. Eles amavam me ver correndo Eram crianças como eu . Não sei porque era assim, no segundo ano eu não parava o recreio todo, só correndo, correndo, dando voltas no campo da escola com Manoel e Everaldo correndo atrás de mim. Vou te pegar, vou te pegar. Interessante isto. Acho que era para compensar o tempo sem exercícios em casa.

Eu adoecia muito quando criança. O colchão era de palha, com um forro listrado. Achava que aquilo era só lá em casa . Eu não gostava. O cheiro era sufocante, eu me sentia mal. Fazia tudo para não sentir.Mas, percebi que era algo comum, quando passei a ir na casa de outras pessoas e olhar discretamente para um quarto cuja cama estivesse desforrada para ver  as listras azul escura ou pretas na cama  o famoso colchão. Todo pobre tinha daquele colchão..Não sei se ainda existe. Achava que era aquele colchão que me fazia adoecer..Ainda não tínhamos a espuma. A doença era suportável pelo carinho e cuidado de vovó. Depois da tormenta da febre, era uma ressurreição. No inverno sempre tinha um nhem,nhem,nhem. Ficava muito triste por não poder  ir a escola. Por outro lado adoecer era tão bom. Muito colo, muito dengo. E, quando a gente retornava, depois de uns dias em casa, a receptividade era tão boa que dava gosto, uma doença...

O que você teve? Caxumba....Gripe, sarampo, dente doendo. Garganta.  Cai e desmenti o.. Foi a chuva, choveu muito, não deu para sair de casa...Sim, para não se molhar , ficar gripado e até morrer... Meu Deus!!!!! Um outro mundo.A canção de recepção:"Bem vindo, bem vindo, bem vindo.Sentimos falta de você.Agora você voltando, que beleza te ver.Seja sempre bem vindo . Fique conosco e não nos deixe mais. Não falte mais, não nos deixe mais."Hoje , eu entendo, que era uma canção anti evasão escolar. Eu sorria. Mas, tudo aquilo me aborrecia. Eu estava ausente por necessidade. Eu sempre dizia: "Eu queria muito vim para escola. Mas, não podia....". A cantoria estridente e a cara daqueles e daquelas que não me suportavam por causa da minha roupa. Eu não tinha a palavra certa. Mas, era inadequado.Aprendi esta palavra com vovó. Não caia bem; esta expressão, aprendi com papa .(Continua....)

Graça Nunes


 


domingo, 9 de agosto de 2020

Elvis, Jesus e a Prostituta -Bridge Over Troubled Water (Legendado)

Uma doença grave.

 Bem, estamos realmente na eminência de uma epidemia mundial.Não houve controle; as pessoas se movimentam muito, no planeta e  as coisas aconteceram desta vez de forma aparentemente imprevista no Litoral Oeste do continente africano.Desde Março deste ano a epidemia está crescente e houve muitos movimentos no mundo. A Copa propiciou parte desta movementação para o nosso país.Os litorais são zonas de difusão.Enquanto a vacina não está  pronta, muito menos disponível é importante prestar atenção nas medidas de prevenção. Um vírus que tem semelhança com o da SIDA. Estes vírus já são considerados como armas biológicas por causa da potencial via de transmissão - gotículas minúsculas inaláveis.Considera-se o morcego como hospedeiro natural. O Ébola  surgiu no continente africano no final do século XIX , anos setenta e tem história sobre isto Contágio: via respiratória e fluídos corporais.As pessoas terão de manterem-se afastadas uma das outras. Um vírus inteligente para o sistema imunológico humano. O vírus está alastrado exatamente onde foi descartado; em regiões de baixa salubridade por falta de medidas sanitárias, baixa possibilidade de informação de suas aldeias nas zonas rurais.. O ideal é buscar o conhecimento sobre esta bomba. Bomba de fogo. Precisamos de prevenção.Será que dará tempo?
Graça Nunes.
09 de agosto de 2014.

sábado, 1 de agosto de 2020

Um Galo Batuta

Batuta era um galo daqueles, gigantão. Tomava conta de tudo. Algumas amigas estavam aqui, eu estava doente. Entraram em paz. Eu avisei sobre Batuta. Ele voa em cima. Mas, Batuta não andava só;.ele tinha um fiel companheiro irmão, muito mais violento que ele, que eu nomeei Roland. Não sei por que este nome. Mas, combinou tanto, porque Roland era galo de briga, cresceu esbelto e ágil e o lugar ideal para ele era uma Rinha e eu não sabia.Devido a sua violência com as galinhas e as pessoas, mandei imolá-lo. Na ocasião, uma amiga veio aqui e me animei tanto que sai para a varanda e pedi que fechasse o portão. Batuta costumava vir silenciosamente e ficar de tocaia, quando chegava gente, para voar em cima. Surpreendia a pessoa, na altura do rosto. Ele de um lado e Roland do outro. Negócio sério. Gritaria, vassouradas...Ah! Eles não desistiam e eram sanguinários. Só paravam ao som da vassoura de ferro, quando arrastávamos a vassoura de ferro, no chão cimentado na direção deles. Por um momento minha amiga viu Batuta agachado próximo ao portão da varandinha e foi falar com ele, ela esquecera que ele era terrível, ele voou rapidamente para atacá-la, eu gritei. O portão foi fechado violentamente, freiando ele e o rastelo entrou em ação, afugentando-o para adiante. Ai , que horror!!!

Certa vez, Batuta e Roland encurralaram o vizinho, no canto da parede(risos). Voavam os dois para cima dele e ele tentava se livrar, colocando o braço e  tudo que pudesse, para se livrar, até que Bárbara trouxe a vassoura de ferro. Da segunda vez, este mesmo senhor foi  escarrerado. O vizinho, um amigo; uma cena impressionante, o vizinho corria, apavorado, no sentido da saída e, na corrida, se desequilibrou caiu, levantou e saiu correndo, mancando e as aves na cola dele. Pedi alguém para correr lá e ajudar....A vassoura de ferro entrou em ação. Outra vez, eu ainda usava moletas. Não estava traquejada para uma corrida daquele jeito e, por um lapso, sai; quando olhei, Batuta e Roland estavam vindo, determinados, na minha direção.Senti que eles me pegariam, sim. Tinha certeza disto e me vi desabando com moletas e ataduras e tudo mais...Gritei por socorro. Bárbara veio rapidamente e os afugentou. Percebi que era necessário limitar o espaço de convivência deles. Mas, antes de isto se concretizar, antes de por limites para eles,  um rapaz, que estava trabalhando aqui em casa, chegou em tranquilidade e não sabia que seria recebido pelo gigantão. Foi sério. Ele ameaçava o galo com o serrote e ele não desistiu. Serrote, vassouras, ...  as pessoas eram todas do bem, só ameaçavam.Enquanto Bárbara procurava a vassoura de ferro, Batuta encarava o jovem, não atendia ninguém. Na luta,  em um voo muito alto , na rampa em direção a cara do referido rapaz, Batuta desequilibrou-se e caiu, barranca abaixo.Mas, não desistiu retornou rapidamente para atacar o rapaz novamente....A vassoura de ferro chegou.Só assim ele cedia.

Nunca me atendeu. Quando eles; Batuta e Roland, estavam ainda jovens, me deram um violento carrerão.Eu cai sobre gravetos e espinhos; não pude nem  sentir a queda e furadas. Eu só pensava em fugir, deles. Para alimentá-los, eu jogava o milho distante, para eles irem e depois, continuava jogando para as outras aves. Batuta atacou Almiro, o galo do vizinho junto com Roland e deixou o galo em uma situação deplorável. Almiro, não morreu porque fugiu, quando atentamos e fomos separar. Desse dia em diante, Almiro não mais arrastou asas para as minhas galinhas, nem ultrapassou a cerca que dividia os quintais. Porque mesmo que quisesse, ao perceber os dois galos daqui, fugia louco e resmungando.Quando eu sofri um acidente sério, tive ajuda de outras pessoas.Mas, Batuta somente me atendeu, depois que  eu percebi que ele estava doente.A queda que ele levara ao atacar o rapaz na subida, fizera o seu próprio esporão entrar nele. Como ele era valente demais para parar, ninguém viu nada. E depois de certo, tempo ele deixou de ser ativo. Passou a ficar em lugares isolados e molhados, até que um dia eu percebi que algo estava errado com ele. Eu não podia me meter nisto, estava operada e esperei ele ficar em uma posição favorável para vê-lo de perto. Choquei-me ao ver que ele tinha um buraco enorme, cheio de larvas de moscas. Me desesperei.Eu não tinha ideia do que fazer...

Então, fui na loja Pet que tinha veterinário.Mas, ele não estava. Eu já frequentava esta loja e tinha um rapaz que era um pessoa muito agradável. Ele  procurou saber se eu queria marcar..Então eu conversei com ele e disse que não queria marcar nada, que tinha de ser urgente. O galo, aquele gigantão estava bichado. Como, assim? Havia se ferido e ...Então ele me  disse: a primeira coisa que tem de fazer é eliminar as larvas do ferimento, com um desinfetante, que as mate mesmo. Nesse caso, a Sra vai usar misturado com água, depois vai dar-lhe  um antibiótico injetável, e uma pomada, para a ferida. Na loja tinha tudo e ele já tinha experiência no assunto.Naquele dia ele era o médico veterinário, na loja, para mim. Tudo foi providenciado .Adquiri tudo e chegando em casa, fui cuidar da ave. Eu não comecei bem. Batuta era um galo muito pesado. Apliquei o desinfentate. Mas, não foi eficaz. No dia seguinte, pedi ajuda ao vizinho e ele carregou o galo e tirou-lhe as penas da região afetada. Verifiquei que havia movimento de coisa viva no ferimento, não tive pena e apliquei creolina pura. Os morotós começaram a cair e persistiram caindo e caindo.Notei que Batuta tremeu, achei que ele não iria suportar. Resolvemos fazer uma casa, só para ele e alta, para que eu não precisasse me abaixar, eu não podia. No dia seguinte lavei batuta com uma solução mais fraca de detergentes mais leve, ele estava limpo; apliquei-lhe uma dose do remédio; a pomada sarativa só poderia ser aplicada quando ferimento estivesse deshabitado.

Ferimento limpo, tratado, com curativo; Batuta abatido e apático. Eu estava decidida a mantê-lo vivo. Roland já havia sido imolado. Mas, eu não pretendia me livrar daquele galo tão valente. E, continuamos cuidando..Batuta voltou a comer, cuidando, aplicamos todas as doses do antibiótico injetável, até que a ferida foi fechando. O ortopedista conversava muito comigo e me disse que eu não poderia estar cuidando de bicho algum. Muito menos de ave. Mas, eu já estava na estrada. Tomei mais cuidados. Com a ajuda de meu vizinho, a quem sou muito grata, pela amizade, atenção, cuidado e respeito. Ele cuidou de Batuta que o escarrerou. Mas, afinal era um animal. Não era uma pessoa. Cuidamos das pessoas, quanto mais....Vimos o gigante ressurgir, também com a atenção de Bárbara, na ocasião, minha ajudante. Logo  uma rampinha de madeira foi colocada para que o gigante descesse.Ele estava curado. Pronto para viver e vencer.

Batuta demorou a descer a rampa da sua casa alta. Parecia não ter jeito. Estava inseguro. Me olhava de um jeito diferente. Talvez, gratidão de galo. O seu olhar parecia com o das galinhas a partir dali e depois, que desceu da rampa , nunca mais correu atrás de ninguém. Continuou morando sozinho. Mas, se comportava como um galo saudável. Engordou três vezes mais. Virou uma bola que mal conseguia andar. Disseram que  eu havia dado Cobavital, Buclina, ou ração de engorda. Por isto ele estava enorme. As crianças da vizinhança já se aproximavam dele com mais confiança.Ele sempre conversava alegremente com as galinhas, nas refeições e ciscava para elas. Tornou-se amigo dos patos. Como ele era arredondado.. uma bola branca e linda. Eu o amava. Certo dia era um domingo. Algo estraçalhou o silêncio. Ouvi uma voz de jovem do sexo masculino gritar lá fora, na estrada." Batuta, seu boiola!" Fui ver, algum jovem que havia passado. Não havia mais ninguém.Foi alguém,
desrespeitando aquele nobre galo. Não gostei.

 Pessoas experientes em criação de galinhas, começaram a analisar o galo. Certo dia uma senhora me disse. Você quer muito bem a ele. Mas, terá de matá-lo ou ele adoecerá de novo e certamente que você sofrerá.Ele está muito gordo. Eu não queria mais vê-lo doente. Quanto ao sofrimento, o dele...Achei que seria uma boa ideia. Então chamei alguém para imolá-lo.A única pessoa que podia fazer isto mais próxima era o vizinho e ele faria com muito prazer. Queria comer o galo, sempre se dirigia a ele:" Batuta, você está bom de ir para a panela.". Batuta foi levado para o abate. De repente eu me arrependi e fui buscá-lo. Ainda lembro de ter visto Batuta, a sombra dele na parede da casa, lá dentro, por uma fresta na porta. Queria tirá-lo de lá. Era melhor que ele morresse de velho. Não, não, por favor. Não faça isto. Batuta!!! Por favor, abram esta porta. Sem resposta. Bárbara me olhava e no seu olhar, eu via  a minha loucura. Eu não estava me comportando bem.Precisa me acalmar, colocar os pés no chão. A culpa era toda minha. Eu o havia entregado a morte. E sua ingenuidade animal, matava. Ele estava  lá, eu havia visto sua sombra, seu jeitão gracioso;Batuta!!!

Mas, chegou  uma antiga ajudante aqui em casa, no exato momento que eu voltei da fracassada, da fracassada recuperação do galo. Ela me disse. Se cria ave para abater. Você teve tanto trabalho com aquele bicho, não quer ter o retorno? Que negócio é este? E, assim, uma panela de água foi colocada no fogo para ferver. Era um crime que se desenrolava e eu era a mandante principal, não haveria sangue literalmente, na minha casa, porque o sangue estava sendo derramado, na casa do executor de minha ordem. Eu não prestava mesmo. Eu era uma nojenta, uma miserável! Uma mulher velha amalucada, fria. Perigosa. O vizinho veio buscar a água fervendo e tempos depois, trouxe batuta sem penas um corpão gordo, descomunal, rosado de galo, devia estar ainda quente. Algo horrendo. Um cadáver ainda quente. A ajudante recém chegada, dizia que galão! Barbara, pôs-se a tratar, limpar melhor e esquartejar aquele corpo que antes mediou tanta valentia e graça. Mas, eu não queria sofrer mais. Era muita carne para uma casa e uma pessoa.

Tudo de Bárbara é demorado. Certamente que não ficaria tudo pronto naquele dia. Solicitei a ajudante que deixasse ela cuidar disto. Então ela disse que já ia embora. O corpo de batuta foi distribuído. Eu acho que o comi, sim. Lembro de um comentário: carne boa. Senti-me culpada.....
Maria das Graças Pereira Nunes.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Despertar

D. Dió era uma senhora cheia de superstições. No tempo dela, as casas não tinham água encanada, não havia saneamento hidraulico, até mesmo em bairros, assim e assim. Sempre tinha que ter uma fonte (poço) de água, nas casas ou uma por perto e tinha de ter alguém para carregar esta água e trazer para casa. D. Dió morava em uma avenida de casas que ficava acima da fonte. Todos, que residiam ali desciam, para carregar água na fonte, lavar roupas na fonte e havia também um riacho.Ela também ia  , com uma lata de  metal, carregar o precioso líquido,para abastecer a casa onde morava, com sua filha e genro. Certo dia esta mulher, desceu a fonte e voltou transtornada, dizia: tem alguém montado aqui nas minhas costas. Não se via nada, não tinha ninguém.Sua filha, uma pessoa muito fria e que não considerava muito,como realidade, o que a mãe dizia ,disse: "mãe, a senhora tá sentindo isto, porque deve ter pegado a lata de mal jeito". D. Dió estancou da aflição que estava e consertou o corpo e, como se despertasse de algo, se sentou. A filha, trouxe-lhe água:"beba mãe e deixe de agonia" . A senhora bebeu a água e ficou quieta. Talvez porque, chamada a realidade desmontou quem montava nela. Sempre temos impressões. As vezes não temos força e energia para administrá-las. Precisamos de outro, que ajude-nos a abrir os olhos de nossa alma.A observadora ficou impressionada e nunca esqueceu desta história. Até hoje, ainda tem, nitidamente, todas lembranças.....
Collete Zolah.