quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Palitinhos de Chocolate

Andei até chegar no ponto de ônibus. As vezes, morar longe é frustrador. Cheguei no local onde poderia pegar um carro coletivo e tentar  chegar logo, as dezenove horas e trinta minutos, no máximo. Havia muita gente no ponto e, mercando próximo as pessoas, um  homem  com o colete verde dos licenciados para vender. Ele  cantava:
-Palitinhos de chocolate. Leve os saborosos palitinhos de chocolate. Wafer e flavour.Delicioso. Um real a caixinha.
Não imaginava o que era.Pensava em espetinhos de chocolate ou, ao pé da letra , como ele dizia;palitinhos de chocolate, pensava em palitos. Fiquei observando o vendedor. Pequenino com um boné, ele mercava sem parar. Cantava incessantemente.
-Olha o palitinho de chocolate.
Vestia-se de jeans e camiseta, um boné verde, acompanhando o avental.Era um senhor. Mas, aparentava  um garoto. Olhei seu rosto e descobri uma nuvem de desapontamento.Imaginei que era porque ninguém comprava.Ele carregava uma pilha de caixinhas.Só uma  das caixas estava vazia.Como seriam esses palitnhos?
O vendedor mercava, andando de um lado para outro.Ele tinha três caixas em uma das mãos e abraçava uma caixa de papelão que continha mais caixas. Em um lance descobri que dentro de uma das caixas,que ele mostrava para as pessoas, havia três caixinhas, menores ..
O vendedor parecia uma criança; minúsculo. Mas, tinha jeito de homem de respeito. A primeira impressão que tive foi que ele era um trabalhador, pessoa honesto.Com a s três caixinhas,na mão, ele andava  de um lado para outro mercando: "palitinhos de chocoolate.Delicioso."
Antes de entender palitinho , eu entendi leitinho."Leitinho de chocolate". Achei
sem sentido. Depois entendi.
-Palitinhos de Chocolate!!!!
Puxaaa, ninguém comprava. Havia tanta gente no ponto naquele terminal de ônibus. Gente em pé sentada.Mas, aquela propaganda parecia não existir; tampouco quem a fazia. Observei que olhavam o homem; mas era como se ele não existisse. Pareciam não o ver. Pobre homem, não vendia.Só mercava.
Por um instante, só observei , depois veio a comoção.Senti algo diferente, perdi a tranquilidade.Senti muito aquele homem, frágil, negro, pobrezinho, vendendo...era  noite...fazia frio, mercando no deserto, cada caixinha custava apenas um real. O que era um real? O que é um real? Nada, para quem quer fazer uma caridade.Será que aquele homem estivera assim o dia todo? "Palitinhos de Chocolate".Será que as demais caixas estavam vazias?
-Palitinhos de chocolate! Wafer, saboroso nutritivo....
Ele não estava vendendo o que os demais vendedores de coletivos costumam oferecer em seus balaios: jujubas(balas de goma) prestígios, talentos, amendoim coberto, balas avulsas e bombons de chocolates, diversos docinhos.Ele nem tinha um balaio ou uma cestinha. Ele estava vendendo, coisa nova; palitinhos de chocolate e sua expressão facial declarava:tenho de vender e está difícil, ninguém quer comprar, para experimentar e ver se gosta...
Ele continuava. Palitinhos de chocolate e vendo sua figura.Sua necessidade.Teria ele  esposa,filhos? Pais ?Uma mãe idosa? Pensei nos moradores de rua, aqueles que Emanuela trabalhava.....Tanta gente. São todos gente.Aquele homem andando de um lado para outro, com aquela pilha de caixas, as caixinhas de demonstração, talvez não tinha vendido nada o dia inteirinho. Como pagar a mercadoria que havia adquirido, para vender? Não vendia, como poderia  ter o dinheiro para retornar?Era necessário fazer alguma coisa.  Eu me vi comprando um conjunto de caixinhas, abri uma , provei um canudinho, finos bastõezinhos de chocolate, com um recheio mole dentro.Gostoso.A partir dai as pessoas passaram a comprar uma caixinha, duas....
O carro chegou.Eu entrei e da janela eu vi um rosto mais contente. O que fazer com tanto palitinho? Levaria para a escolinha no dia seguinte.......
Collet Zolah.
Salvador, 2013.

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